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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Esperamos por ela? Quem? A SAÙDE. Ah! Não chega para todos!!!!

 

Saùde.JPG

 

 

 

Imagem do site "Jeferson Fernandes", Assembleia legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Escolhi-a, porque acredito que ilustra bem : A SAÚDE É PARA TODOS.

- Podiam ter sido mais específicos? - ironiza Maria Aerdna, com o ferro de passar na mão. Fala para o companheiro sentado no sofá em frente à Tv com o portátil do trabalho pousado nas pernas.

- De que é que estás a falar, Maé? - pergunta-lhe com ar confuso.

- Não viste a publicidade que acaba de passar?

- Não me apercebi. Estava a verificar os cálculos da “tabela de ocupação do material alugado”, porque amanhã tenho uma apresentação.

- Pois. Assim não estás a contribuir para a boa manutenção da tua saúde com essa postura. Como dizia aquele senhor francês, o Monsieur Charles de Saint-Evremond: "A saúde como a fortuna deixa de favorecer os que abusam dela."

- Maé, o vapor do ferro de passar está a fazer-te mal? - questiona ele confuso. - O que é que tem a publicidade, a minha saúde e esse senhor em comum comigo? Não percebi a fórmula!!!

- A publicidade pareceu-me um retrato dos “cuidados de saúde” no ocidente, quase perfeito. E digo no ocidente, porque imagino que no resto do mundo esse conceito “cuidados de saúde” nem exista.- diz ela pensativa e depois passa a descrever. –“Trata-se de uma sala de espera, com um casal e uma senhora. A senhora "Maria Armanda" é constantemente chamada pela enfermeira para os exames e consultas, enquanto os outros esperam e desesperam. Quando o senhor resolve reclamar pela diferença no tratamento é-lhe explicado que sem cartão do dito seguro tem de esperar.” Isto até podia ser divertido não fosse o estado do acesso à saúde neste país estar cada vez pior. Lembras-te quando fui fazer a Ressonância Magnética aos Covões, em Coimbra?

- Hããã!!!

- Exacto. Tive de levar 2lts de água para me fazerem o remédio. O dito remédio que faz parte do exame e que tens de tomar uma hora antes de ir para a máquina. Não é pela água, é pela mensagem: não tens dinheiro, não tens carro, estás doente e sem forças, sem ninguém para te acompanhar (alguém tem de trabalhar, que o dinheiro não nasce no quintal. Quando tens alguém!!!), mas carrega a água que pagas-te duas vezes. Pagas impostos para o SNS e ainda pagas IVA na loja para teres remédio e dá-te por agradecida por poderes fazer o exame. E depois, ficas uns meses à espera dos resultados e se não “pões pés ao caminho” nem te dizem nada. Até acho que isto é sobrefacturar em impostos!!!

- Eu sei. Tens razão. Eu assisti a esse episódio de lugar privilegiado. Mas, aqui trata-se de publicidade a um produto de uma empresa. E têm todo o direito a fazê-la.

- Têm. Quem disse que não? As empresas têm direito a procurar o lucro dentro da sua área de actuação e nunca sobre os valores do ser humano e direitos dos cidadãos. Nós sustentamos um Estado para que regule isso e faça a justiça funcionar quando alguns prevaricarem. O que vemos nesta publicidade é o resumo fiel e muito bem conseguido do que vivemos todos os dias: ou estás disposto a financiar tudo e todos ou sucumbirás. De qualquer das formas sucumbirás! - diz desiludida.

- É a crise.

- Essa desculpa já não convence ninguém. O globo está em constantes crises e mesmo assim fomos evoluindo. Inclusive a evolução mundial das últimas décadas não tem precedentes. E o papel dos Estados Democráticos, como árbitros na distribuição da igualdade de oportunidades, está aí, na primeira fila. Até que alguém resolveu fechar os olhos aos joguinhos da banca, como se não existissem exemplos no passado de qual seria o resultado. E quando a banca e os grandes negócios se esgotam a si mesmos e se instala a crise, os governos em vez de saírem a penalizar e regular estas "brincadeiras", resolvem impor a lei da austeridade que mais uma vez só vai dar vantagem a alguns. E não saímos desse ciclo. Até uma mãe de primeira viagem sabe que impor regras austeras, não traz bons resultados a médio e longo prazo. A criança vai crescer revoltada e com muitas faltas, que o instinto de sobrevivência vai tentar colmatar da maneira errada e isto se não se virar contra a progenitora. Este não vai ser um cidadão útil à sociedade. Acredito até no contrário. O problema aqui é de visão. A visão das pessoas tornou-se tão específica e técnica em determinada área, que não vê a interdependência das várias áreas que regem uma vida.

- Por exemplo?

- Uma vez li, algures: "as pessoas apostam a saúde para fazer fortuna, e depois gastam a fortuna para tentar recuperar a saúde". Acho que é ilustrativa, embora não se aplique a todos, afinal existe muita gente, a maioria diria eu, que trabalha toda a vida muuuuuuito e bem e não consegue para mais do que sobreviver. Por isso no fim, não pode tentar sequer ter alguma saúde.

- Sim. Os nossos pais, tios, são bons exemplos. E então no caso dos nossos avós era terrível. - a voz sai condoída.

- Exacto. Trabalharam para sobreviver e contribuíram para a comunidade. Mas, quando a saúde faltou tiveram que aceitar o triste e sofrido fim.

- Sim. E no caso do meu avô foi terrível. Até dava dó ouvi-lo gritar com dores. E a minha pobre avó, sem saúde para ela, cuidou dele até ao último suspiro. - a dor estampou-se no rosto dos dois.

- Explica-me, se sabemos que esse vai ser o nosso fim, porque é que continuamos a apostar a nossa saúde? Para fazer crescer um sistema que depois não dá a sua parte em troca?

- Porque te pagam o salário! - diz com voz sumida e começa a rodar a bolinha do rato no teclado.

- Então aumentem os salários para que possamos ser nós a substituir o papel do Estado e garantirmos uma oportunidade de sobreviver com dignidade. Embora hoje em dia, guardar dinheiro no banco também tem que se lhe diga.

- Mas, a economia não permite margem para aumentos.- remata ele.

- Tretas! Se tudo pode ser matemático nesta vida, creio que se está a trabalhar com uma equação impossível. Tem de se mudar as variáveis e para isso é necessário mudar as formas de actuação. 

- E qual seria a fórmula correta? - pergunta ele, virando-se finalmente para ela.

- Não sei. Mas creio, que se deveria começar a canalizar o dinheiro para os departamentos realmente importantes. As vigas de sustentação das nossas sociedades: a igualdade na educação, na saúde e na justiça. Se temos de começar por algum lado, eu começaria por aqui. A austeridade seria aplicada aos jogos económicos e não às necessidades básicas. Vamos todos ter um carro de luxo, ou fazer um cruzeiro às Caraíbas? Não. Isso deve depender do nosso trabalho e esforço. Mas, saber que vamos ser atendidos com dignidade e igualdade num hospital deve depender de regulamentação e justiça. Eu não quero continuar a dar cabo dos meus tendões e sofrer toda a vida de dores nas costas só para dar lucro ao meu patrão, eu preciso saber que quando isso se tornar insuportável vou poder procurar o melhor tratamento possível e ser atendida com a dignidade com que fiz as minhas contribuições.

- Mas existem hospitais privados e outros que são públicos?

- Sim. E vê lá a justiça no sistema. Não tens dinheiro, tens de ir para o público, onde o serviço tem vindo a piorar e tu sabes disso (falta medicamentos, médicos, os que estão andam exaustos, etc…). Por isso, vais doente e com o coração nas mãos. A pensar: "Que me calhe uma boa alma, como médico, se não saio daqui pior do que entrei." e repetes isto quase como um mantra. E depois não entendem, o porquê de tanta Baixa Médica. Se tiveres dinheiro, independentemente de como o consegues, podes usar o serviço público e ainda ser melhor atendido que os utentes habituais sem alternativa. Ou usar os sistemas privados, que pasmem-se: também tem patrocínio do Estado. Eu acho que devemos poder fazer escolhas (princípio da liberdade), mas é preciso regulamentar estes desequilíbrios para que haja justiça.

- Não creio que as coisas vão mudar. - responde-lhe descrente.

- Terão de mudar. Assim, como está, creio que todos já vimos que não se pode sustentar. Afinal sem trabalhadores da primeira linha, como se alimentam e fazem fortuna, os patrões deste mundo? Estás a ver algum senhor de "fatinho", a vir tirar as batatas da terra? Não. O seu papel é outro. É sentar-se no restaurante a comer a batata, enquanto negoceia a venda do camião de batatas. O problema aqui é que estes dois papéis são fundamentais para o saudável funcionamento da sociedade. Mas afastaram-se e desconhem-se de tal forma que passaram a explorar-se de forma desequilibrada. Creio, que deveríamos ser melhor educados para conhecer os sistemas que nos sustentam na íntegra para que consigamos calçar os sapatos do outro e assim respeitá-lo. Sim porque respeito não é só saber dizer "Bom Dia".

- Eles sabem disso. Por isso esses constantes avanços e recuos nas medidas impostas. Eles contam é com a manutenção da ignorância generalizada. - diz-lhe ele.

- Vou mas é arrumar a roupa. Acaba o teu trabalho. Algum dia, teremos de fazer qualquer coisa. - dá-lhe um beijo e desaparece no corredor, a pensar. De volta à doce rotina.

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