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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

A idade, a maturidade e a entrada na escola…

O meu filho de 7 anos entrou este ano para a classe de CE2, o equivalente à terceira classe em Portugal.

 

Com 7 anos eu estava na primeira classe, há uns 30 anos atrás. Doido, não? É doido em primeiro lugar porque caímos sempre na inevitável comparação apesar de tanto ter mudado, e em segundo lugar pela pressa que a sociedade impõe ao crescimento das crianças. E depois, proliferam por aí os psicólogos a tentar remediar os erros e páginas e páginas de jornais acompanhadas de vozes populares a queixarem-se que os adultos estão cada vez mais imaturos.

 

Qual é o meu problema com esta situação?

 

O meu filho não está no terceiro ano de escolarização porque é uma criança superinteligente. Ele é uma criança inteligente e ponto. O meu filho está no terceiro ano por causa das regras que são feitas sem muito critério, visando apenas responder a um problema imediato de sobrelotação das creches e nunca visando o bem-estar, interesse e futuro da criança.

Esse é o grande problema da sociedade atual, constantemente em stress a responder sem pensar a problemas imediatos, sem a mínima atenção aos impactos futuros!

 

Quando na creche me disseram que o meu filho ia começar a primária aos 5 anos a minha pergunta foi inevitável: “Ele está preparado?” Eu sentia que não, elas responderam-me “Sim, ele adquiriu todos os conhecimentos e segundo as regras tem mesmo de passar de fase.

Ok! Se as regras ditam, o que pode uma mãe fazer?

 

Logo no primeiro dia, na primária, a falta de maturidade fez-se notar causando logo o primeiro problema. No segundo dia de escola, logo de manhãzinha já estávamos na escola para falar com a professora. Essa conversa incluiu a diretora, o que eu agradeço muito, porque foram muito compreensivas e durante todo o restante tempo que o meu filho frequentou essa escola, elas foram sempre muito tolerantes com o facto de ele ainda não ter maturidade para compreender que uma sala de aula não é uma sala de brincadeira. O problema é que as professoras não são todas iguais (não têm de o ser) e uma professora a dar aulas ao terceiro ano, espera mais dos alunos e exigi-o. E aqui começa o problema.

 

O meu filho aprende muito bem, e como diz a professora, é a sorte dele. Mas, sonha muito durante a aula e mostra uma certa resistência a concentrar-se.

Imaginei logo alguém a dizer-me para o levar ao médico, que hoje em dia parece ser a solução para tudo na cabeça stressada dos pais, amigos dos pais e até de alguns profissionais o que é extremamente assustador. Ainda bem, que a professora, conhece as crianças e percebe que o problema do meu filho não é nenhuma doença, é apenas a natural imaturidade destas idades.

 

O meu filho vai fazer 8 anos não tarda e a capacidade de concentrar-se vai acabar por se manifestar com a nossa ajuda, mas foram quase 3 anos de pressão constante para que se mantenha concentrado, quando o que ele devia estar a fazer era brincar, socializar e aprender essa arte de estar com outros que é tão complicada nos dias de hoje. Ele não é mau comportado, acho que o devo esclarecer, o problema é que ele não sabe ainda concentrar-se. Tem outras prioridades típicas da idade que é conhecer o outro, experimentar, etc… E nada disso se faz sentado e quieto durante largos períodos de tempo.

Não é numa sala de aula, onde o silêncio tem de imperar a maior parte do tempo, que se aprende a comunicar e muito menos se os intervalos são de apenas 15m. Neste caso adorei saber que a professora, tira tempo para permitir que eles se reúnam espontaneamente em grupo para tirar dúvidas entre si, porque como ela mesma diz, quando um adulto tem um problema também o consulta com os amigos.

 

Todos os dias os alunos têm de escrever uma frase da sua autoria e em total liberdade. Um destes dias a frase de meu filho foi “Odeio esta escola, é a pior da minha vida.” Custa ler isto.

Entendo que perante uma mudança as coisas pareçam difíceis para ele, não tem maturidade para entender que aprender é o seu único bilhete para a liberdade. Não é o dinheiro como a maioria pensa, porque existe muito endinheirado que é abusado pelos abutres que o cercam e não sabe sair desse ciclo, dependendo sempre do dinheiro para tudo. Mas, quando aprendemos abrem-se mil portas, mil possibilidades, não se depende de nada a não ser de nós mesmos (e os abutres morrem de fome).

 

Sinto que esta aversão à escola, pode ser perigosa, pode colocar em causa todo o seu futuro, se não soubermos ajudá-lo (a às vezes não sei mesmo como fazê-lo). Sinto que o facto de ele ter entrado tão cedo na escola foi um erro. Viver é muito mais que aprender a tabuada.

 

Se olharmos à nossa volta, percebemos que os nossos colegas mais felizes (não vou dizer bem-sucedidos porque isso é muito discutível) não são necessariamente os que obtiveram melhores notas escolares e sim aqueles que melhor aprenderam a comunicar, aqueles que mais tempo perderam a conhecer o outro, aqueles que se permitiram cometer erros e aprender com eles. Como é que uma criança fechada uma semana inteira na escola para que as professoras possam passar os conhecimentos e depois fechada o fim de semana porque os pais estão demasiados cansados, pode aprender a usar estas ferramentas maravilhosas do ser humano e assim amadurecer bem? Como? Sociedade, podem-me explicar?

 

Quando vejo as discussões políticas acerca da educação fico muito assustada, porque rodam sempre à volta da pergunta “como é que vamos manter estes miúdos mais ocupados para que os paizinhos não tenham que se preocupar com a sua educação e assim sejam escravos do sistema (escravos pseudo-contentes, diga-se!)?”

 

Se os pequenos não aprendem a usar a liberdade numa altura em que podem ser facilmente conduzidos por um adulto, porque aos 7 anos ainda nos ouvem, quando for libertado em adulto vai querer recuperar todas as experiências que reprimiu durante anos e o desastre está lançado.

 

Não acreditam em mim? Ok! É justo. Mas, observem à vossa volta e vejam se estou assim tão errada. E não se acanhem, digam-me. Gosto de aprender e para isso corrigir erros é crucial, e as melhores correções nascem das tentativas de acertar, tentativas reais e não virtuais. Hoje em dia, estamos convencidos que por existir um arquivo virtual inesgotável os putos já não precisam de experimentar, apenas têm de assistir. ERRO! 

 

A que é que sabe aquele bolo lindo que vimos no canal de culinária? A nada, até o momento que o tiras da tv e fazes a receita. O mesmo se passa com os beijos trocados na tela e que na sua maioria não passam de coreografias. Beijo é beijo pelo contacto, pela experiência. Aprender um idioma, é verdade que ajuda escutar na tv (o tão falado “listening”) mas depois é preciso praticar e muito, é preciso conhecer não só a gramática, é preciso conhecer a cultura dos falantes desse idioma para que as expressões idiomáticas não sejam uma armadilha a cada frase. E isso não ocorre sem contacto humano, sem experiência real.

 

Precisamos colocar um travão nesta nossa ansiedade de querer acelerar o crescimento das nossas crianças, deixemos que amadureçam e que experimentem realmente.

 

O mundo está cheio de gente a viver às pressas, não condenemos os nossos filhos ao mesmo. Isso não traz felicidade e no final das contas é isso que todos queremos “ser felizes”, seja lá o que isso queira dizer para cada um de nós.

 

Eu não posso voltar no tempo e dizer à apressada educadora que “acho que o meu filho ainda não está maduro o suficiente para entender uma sala de aula e prefiro que ele espere mais um ano”, mesmo que isso implique discutir as regras com quem de direito. Mas, posso alertar-vos para esse ponto e tentar descobrir como é que ajudo o meu filho para que ele não ache a escola um fardo demasiado pesado e não a cumpra apenas para ter um diploma de frequência (como a maioria dos ex-alunos), porque não tem outra opção. O meu trabalho agora vai passar por tentar recuperar o interesse dele pela escola. Pela escola como fonte de aprendizagem e crescimento e não como local de depósito a que é obrigado a apresentar-se enquanto os pais picam o ponto.

 

O mais importante é manter o diálogo aberto, mesmo que custe ouvir “eu odeio a escola” e sinta aquele desespero a revolver-me a bílis. É melhor ouvir essa verdade e poder trabalhá-la do que limitá-lo e depois não saber o que estou a fazer (nesse caso estaria a piorar o problema e não a tentar resolvê-lo).

 

Manter um contacto saudável com a professora e com a dinâmica da escola é essencial, para tentar encontrar respostas. Os amigos são essenciais, então tentarei promover o mais possível o contacto entre eles. Sem tecnologias pelo meio, porque até pode ser o meio atual de comunicação, mas não quer dizer que seja o correto, afinal antes as mulheres não podiam votar e isso teve de mudar e etc…. Teríamos muitos exemplos de práticas que durante décadas e até séculos foram tidas como corretas e que no geral levaram a infelicidade e guerras até que foram mudadas.

 

Eu defendo sempre que possível o olho no olho. Sem ignorar que as tecnologias existem e cumprem um determinado papel, apenas não quero que substituam a nossa humanidade que é o que nos torna tão especiais.

 

E vamos ver se a sorte me assiste e tudo corre de feição. Mesmo colocando as mãos na massa e tendo muita vontade de corrigir os erros, é preciso sempre um pouco de sorte.

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