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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Anda alguma coisa errada com os números da violência social ?

 

violencia social.jpg

 Imagem de KLEBER.

 

  Sentada na sanita, na casa de banho distraída a ler o rótulo do champô, começa a ouvir pancadas no apartamento do andar de baixo. Maria Aerdna, pensa  « Aí vamos nós, outra vez ! »

  Enquanto permanece sentada ouvem-se pancadas e um pouco mais tarde, pela ventilação da casa de banho, surge um choro baixinho, sufocado. Não aguentando mais, levanta-se e sai para a sala onde liga a Tv, com o som um pouco mais alto. Não tem a certeza, do que será que acontece no andar de baixo. Não conhece o casal. Mudaram-se apenas há alguns meses. Mas nada lhe parece normal, nestes episódios.

  Não quer ser intrometida mas o sentimento de culpa por não fazer nada vai-lhe apertando o peito. E não há Tv que alivie. Mas também não faz ideia do que fazer. As autoridades não fazem nada, pelo contrário olham para o lado e as vítimas retiram as queixas. O que é que ela pode fazer ? « Nada », pensa.

  Dois dias mais tarde .

  O despertador toca, e Maria Aerdna, estica o braço para o desligar. Acabou de acordar e está cansada. O Manel Pedro ao seu lado, faz a mesma ginástica para afastar o sono. Beijam-se e Maria Aerdna vai para a casa de banho. Depois de lavar a cara, fica um bocado a olhar o espelho. E novamente o som de um choro sufocado lhe chega pela ventilação. « Outra vez. E logo de manhã. Tenho de estar a imaginar. E não sei de que apartamento vem o som ! »

  Chama o Manel Pedro falando baixinho, com medo de chamar a atenção. Na casa de banho, faz o companheiro ficar à escuta.

 - Ouves ? – Pergunta – lhe ela.

- Parece alguém a chorar.

- Consegues perceber de onde vem o som ?

- Da ventilação. – Responde ele e ela troca-lhe os olhos e puxa-o para a cozinha.

- Já não é a primeira vez que ouço isto. Eu acho que alguma coisa sinistra se passa no apartamento de baixo.

 -Maé, não inventes. As pessoas às vezes choram, ficam tristes. E isso não tem que ver com nada sinistro. A vida tem altos e baixos. São coisas de casal e nós não temos direito de nos metermos.

- Tu achas? E se ele lhe bater? – Diz ela indignada.

- Se isso fosse verdade, já alguém teria ouvido, ou visto. – Ao ver que ela não estava muito convencida, acrescenta. - Não te metas nisso. “Entre marido e mulher não se mete a colher”, diz o ditado popular.

- Não achas que esse ditado já está muito ultrapassado? Eu sinto culpa e não é nada comigo.

- Faz o que achares melhor. Mas lembra-te que estoira sempre para o que tenta ajudar. A justiça tem os olhos vendados e as vítimas defendem os carrascos. A mim parece-me uma luta perdida, logo à partida.

- Não sei. Estou confusa.

  No fim dessa semana, ao chegar a casa Maria Aerdna depara-se com o INEM e a polícia à porta do prédio.  Aproxima-se de uma vizinha e pergunta se sabe o que se passa.

- Sabes aquele casal novo que vive no apartamento por baixo do teu?

- Sim. – Responde Maria Aerdna de olhos arregalados antevendo o resto da informação.

-Quando os vi, percebi logo que ele não era boa resma. Tem aquele olhar. – “Que olhar? Do que ela está a falar? O homem parece normal, simpático, educado, bem vestido”, pensa Maria Aerdna enquanto a vizinha debita informação. – Sabes? De quem está a esconder alguma coisa. E depois, aqueles barulhos constantes.

- Você ouvia?

- Não era sempre. – Diz a vizinha à defesa. – Mas às vezes ouviam-se umas pancadas. Também parecia que alguém estava a chorar baixinho, de vez em quando. Ouvia-se pela ventilação da casa de banho.

- E hoje o que aconteceu? – Diz Maria Aerdna cuja culpa a estava a deixar agoniada.

- Ele deu-lhe uma carga de porrada com um cinto de roupão com umas bolas com picos na ponta. Mas a rapariga conseguiu fugir para o hall. Ia a passar o do 5° esq. Que perante tamanha barbaridade ligou para o 112.

  Com a culpa a pesar no estomago e a deixá-la agoniada, Maria Aerdna despediu-se e foi para casa.

  Ainda sozinha, não conseguia para de pensar que se calhar podia ter feito diferença. “Fui tão cobarde”.

  Não voltaram a ver o casal. A vizinha contou uns dias mais tarde, que a rapariga tinha voltado para casa dos pais. Dele não se sabia nada. Maria Aerdna resolveu procurar informação:

  • Pesquisou na internet e deparou-se com o relatório da APAV 2013. Maria Aerdna sempre implicou com as estatísticas, por achar que nem sempre são demonstrativas e são altamente manipuláveis. Mas os números eram arrepiantes.
  • Ao procurar uma ajuda à vítima de violência na internet apenas aparecia referências à APAV (uma instituição particular e de solidariedade social). Não conseguiu chegar a nenhuma entidade pública.
  • Resolveu perguntar no posto da polícia. Os olhares foram desconfortáveis, mas foi dirigida a uma senhora que simpaticamente lhe explicou:
    • Violência doméstica é um crime público, o que significa que qualquer um que tenha conhecimento pode apresentar queixa. Mas foi sincera, talvez desconfiada de que Maria Aerdna estivesse a esconder alguma coisa. Depois da queixa, pouco ou nada se pode fazer se a vitima não cooperar. É preciso fazer recolha de provas e isso requer coragem para se exporem. Sem apoios e habituadas a viver no medo, a maioria não quer dar esse passo.

 

   Maria Aerdna já na cama, não consegue deixar de pensar no assunto:

“Isto parece um beco sem saída à vista. Violência praticada à porta fechada, com todas as vantagens na mão do agressor, porque a vitima não tem opção de saída.

 A maioria das pessoas leva a sua vida normalmente, como se sofressem de cegueira selectiva. Eu incluída.

 Apenas se pode contar com o apoio de uma instituição particular e que com certeza não terá meios para chegar a todos os que necessitam. A justiça é vítima de si mesma. Porque não tem os serviços necessários para apoiar as vítimas e assim garantir a sua libertação.

 E o estado deve ser constituído por pessoas completamente alheadas da realidade. Pessoas com os olhos postos no que se passa fora de fronteiras e que tenha a ver com estatísticas e jogos financeiros. Cegaram para tudo o que esteja fora desse alcance. Mais uma vez pergunto: Para que é que eu pago impostos? Para garantir o jogo financeiro? Com certeza que não. Os impostos deviam ser usados para garantir educação, saúde e justiça. Todos os que de alguma forma formamos esta sociedade temos DIREITO À DIGNIDADE. E o estado devia estar aí para garantir que todos os cidadãos no seu território tenham a sua quota de dignidade.

 Vêm com políticas de incentivo à natalidade? Em que realidade é que vivem estes senhores. As crianças são a próxima geração. Merecem ser recebidas no mínimo com respeito. E onde pára o respeito num país onde as vítimas de violência não têm saída?

 Sai nos jornais que se gastou menos em abonos. O desemprego está (mesmo com a manipulação dos números) altíssimo. Querem que além de falta de apoio, estas vítimas estejam agarradas aos seus carrascos por causa dos filhos. Por falta de condições para os manter. E as crianças? Queremos que a próxima geração perpetue estes comportamentos? Os maus exemplos estão aí.

 

 Alguma coisa tem de ser feita. Os políticos, têm de tomar um banho de realidade. O povo tem de usar a sua voz. E começar a denunciar o que lhe ocorre debaixo das barbas. Parar de fingir que não é nada connosco e que se estão aí as autoridades ”que tomem conta do caso”. Não vamos a lado nenhum enquanto acharmos que os outros nos resolvem os problemas. Teremos todos de agir, para que os políticos percebam que têm de se informar melhor, para agirem melhor.

 Temos que exigir que o objectivo dos políticos seja contribuir para uma sociedade saudável e não jogar a ver quem ganha as próximas eleições.

 Para isso temo que tenha de existir um bom trabalho jornalístico que exponha na totalidade o jogo para que se alterem as regras de forma a diminuir os aproveitamentos, que sabemos existir mas que não estão claros.

 E principalmente têm de exigir que o nosso dinheiro seja usado como deve. Dizia a Dra. Isabel Jonet que estávamos habituados a comer bifes e que se não há dinheiro não o podemos continuar a fazer. Eu acho que foi infeliz na forma como o disse, mas o exemplo aplica-se perfeitamente aos nossos políticos e teremos de os lembrar: O EXEMPLO VEM DE CIMA.Senhores da política nacional se não há dinheiro para o básico, parem de comer bifes. Cortem as gorduras que já estão a ser prometidas há demasiado tempo, como forma de desviar atenções. Eu até agora não percebo algumas coisas:

  • Milhares gastos em medalhas. Ainda agora a câmara do Porto homenageou o Sr. Oliver Stone. Porquê? Não há dinheiro para disparates.
  • Carros com motoristas? Para quê? Para ir de casa para o quartel.
  • Apoio à péssima gestão bancária. Meu Deus, haverá maior tiro no pé, do que ensinar à sociedade que se estiver no lado da sociedade com o poder do momento, se pode ser péssimo alguém virá resgatar-nos. E quando esse poder estiver no lado de extremistas. A sério que queremos perpetuar esse exemplo.
  • Como é que se pode dormir, depois de dizer a milhares de pais de família, vocês terão de cortar no pão que põe na boca dos seus filhos, que nós agora temos de desviar os recursos para salvar os incompetentes com visões distorcidas do que deve ser a vida. Sabendo que milhares irão morrer, não porque chegou a sua hora mas porque não se disponibilizaram recursos existentes, que estavam nos cofres para carros, viagens e prémios não merecidos pelos resultados apresentados.

 

Eu não fiz a minha parte e agora não sei como exigir que eles façam a deles?”    

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