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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Pode uma telenovela ser um bom produto cultural ? Porque não ?

Novelas.JPG

 

 

Imagem do site IF TV. 

 

Fui muitos anos consumidora de novelas, pelo simples fato de que a minha avó e a minha mãe tinham a TV acesa nesses programas. Estivesse a estudar, a lavar a loiça, a ler, ou apenas a dormitar, a TV e as suas telenovelas eram uma banda sonora quase constante.

 

Na memória ficou-me as primeiras novelas: “ Roque Santeiro” e “Tieta”. Não recordo a “Gabriela Cravo e Canela”, a não ser das conversas da minha mãe, e não vi o remake. Vou deixar para ler o livro. Mas outras se seguiram. Das portuguesas lembro-me de nomes como “Chuva na Areia” e “Palavras Cruzadas”. Lembro-me ainda de no início da TVI passarem novelas dobradas: “Kassandra” (Venezuelana, sobre o povo cigano) e “Maria do Bairro” (Mexicana abordava a diferença de classes), por exemplo.

 

A Telenovela é um produto Global, que chega a todos. Mesmos os que não tinham TV, juntavam-se na casa da vizinha ou no café para assistir. A vida doméstica era organizada para deixar aquela hora livre. E o dia seguinte era para trocar ideias acerca do argumento, e falar e discutir os enredos e personagens como se da realidade se tratasse.

 

Hoje as coisas estão diferentes, mas não muito. As novelas continuam a chegar a todo lado. Hoje contam com a internet, as box’s, os iphones, etc… Mas o seu formato banalizou-se e formatou-se para o mero entretinimento. E apesar de ser um produto que repete a mesma fórmula continua a chegar a muita gente.

 

As Tv’s preocupam-se com as audiências da internet como se fosse uma perda. Eu acho que foi um ganho. Porque hoje os produtos podem ter públicos nunca antes imaginados. E se é verdade que provavelmente perdem dinheiro com a venda de direitos de transmissão, se adaptarem ao formato da transmissão pela net podem ganhar em receitas de publicidade. Porque os produtos publicitados também chegam mais longe e a mais pessoas. As pessoas na net saltam as publicidades? Sim. Mas na Tv com as box’s também. E mesmo na Tv aberta aproveitam para ir à casa de banho ou fazer zapping. Os mercados mudam: os ferreiros deixaram de ser úteis com a industrialização, adaptaram-se. As tv’s também terão de o fazer, só que de uma forma mais fácil, acredito eu.

 

Nas minhas memórias ficaram personagens isolados: como a “Porcina” e o “Senhorzinho Malta” com as suas pulseiras e o bordão: “Estou certo, ou estou errado!”. Mas não me lembro muito do argumento, confesso. Mas ficou-me a ideia do lobisomem e do folclore brasileiro.

 

No caso de Tieta a música: “Tieta é mulher Diabo e minha própria tentação. Tieta é a serpente…” ficou na memória. O Timóteo e Amorzinho ganharam pela história de amor. A problemática proposta nesta novela que me ficou na memória foi a “Mulher de Branco” que cria o ambiente para o conflito entre a Tieta que se mostra ao mundo e a Perpétua que se esconde atrás de uma máscara de hipocrisia. Lembro-me de alguma indignação à mesa, porque na abertura aparecia umas maminhas. Mas a verdade é que durante a apresentação ninguém falava, era o fascínio por essas terras do outro lado do Atlântico mais descontraídas.

 

E fui crescendo e formando a minha opinião acerca do Brasil e das suas gentes, através dos seus próprios testemunhos deixados nas histórias que nos chegavam.

 

Das novelas dobradas ficou o fato da sincronização e emoção emprestada à voz desfazer qualquer vontade de ver. Mas do pouco que fui vendo, ficou-me a ideia de intensidade. Tudo era muito intenso: a pobreza e a riqueza retratadas com fossos enormes, as actuações quase forçadas. Fiquei com a ideia de tudo ou nada, acerca da cultura latina americana (opinião que refino mais tarde!).

 

Das portuguesas não me recordo bem. Estavam a dar os primeiros passos: as representações eram forçadas, o tom de voz usado não era natural. Mas recordo que gostei da história de “Palavras Cruzadas” não sei explicar porquê.

 

E cresci, criando a minha ideia daquele pedacinho de terra do sul da América através das telenovelas e dos testemunhos deixados pelos seus autores. A entrada na vida profissional e o início de vida fora da casa dos pais afastou-me dessas rotinas.

 

Em 2004, no culminar de um período em que a doença de Cronh dominava os meus dias e depois de um longo internamento hospitalar, volto para casa com todo o tempo do mundo. Com apenas 46kg para os meus 1.77m, tinha muito peso para recuperar e uma vida para reordenar. A internet estava aí e com ela: o Youtube e os seus conteúdos. Passava na SIC a novela “Floribela” e eu gostava de ver. Recuperei a rotina da hora da novela com ela. Por um artigo numa revista descobri que se tratava de uma versão da exitosa novela de Cris Morena: “FLORICIENTA”. O produto era argentino. Eu adoro a Argentina. Só conhecia documentários sobre a Patagónia. Quis ver.

 

Acabei a aprender espanhol com o sotaque mais difícil segundo eles mesmos: o sotaque argentino. E para ajudar a actriz principal, Florencia Bertotti, falava rápido e com um estilo próprio. Foi o princípio de uma paixão.

 

Se a Luciana Abreu e o Diogo Amaral me tinham convencido a seguir a história, a Florencia Bertotti e Juan Gil Navarro fizeram com que eu me apaixonasse pela história desta Cinderela moderna e trapalhona com queda para a mentira. Com esta história descobri: o espanhol, a Argentina e os seus costumes, o "mate" , o "Dulce de Leche",a cidade de Buenos Aires, e comecei a perceber como funciona a construção dos personagens (assunto que me passa a interessar).

 

Quis tirar “a prova dos nove” e procurei outro produto para ver se tinha sido sorte. Encontrei um punhado de excelentes produções argentinas: Muñeca Brava (que em Portugal se fez a versão “Anjo Selvagem com Paula Neves), Lalola, Los exitosos Pells, Sos mi vida,… Tudo produções diferentes e que fogem à fórmula da menina pobre que conhece o rapaz rico (tirando a primeira “Muñeca Brava”, mas que vale pela química e a relação amor-ódio dos protagonistas: Natália Oreiro e Facundo Arana, que voltam à carga em “Sos mi vida” com enorme êxito).

 

No caso de “Lalola”, Carla Petterson protagoniza um homem que um dia acorda e se vê homem, por causa de uma bruxaria que uma das suas muitas mulheres lhe faz para o castigar. A novela desenrola-se neste conflito de se comportar como uma mulher enquanto não consegue voltar à sua forma normal. Acontece que no percurso se apaixona pelo fotógrafo da revista que dirige. Quando tem oportunidade de voltar à sua forma terá de fazer uma escolha. Tudo com muito humor. É fantástica.

 

 

“Los exitosos Pells” retrata o mundo da fama através de um casal de apresentadores e a forma como tudo pode ser orquestrado para parecer o que não é. Também com muito humor à mistura, vamos aprendendo como funcionam os meandros das televisões.

 

“Sos mi vida” é uma fórmula da mocinha e do mocinho. Mas vale pelo humor, pelo famoso “Barrio de la Boca” na cidade de Buenos Aires. Pela apresentação ao mundo do Boxe. E tratam com muito humor o preconceito: à ignorância. E claro que quando juntam Natália Oreiro e Facundo Arana, não tem para ninguém, porque funcionam muito bem na telinha. Eles sabiam disso e aproveitaram o produto para apresentar o seu paìs ao mundo. Boa!!

 

Passar dos produtos argentinos para os mexicanos foi um processo natural. Uma vez o ouvido adaptado à diferença de “aciento” (sotaque) era só disfrutar. Essa mudança acontece quando tento ver outra versão da novela “Rebelde Way” de Cris Morena.

 

Descubro “Rebelde” e os “RBD” (a banda). É uma história juvenil sobre um colégio de elite. A novela, na versão mexicana, origina uma banda de seis cantores com êxito mundial, com actuações em estádios como Maracanã no Brasil e países como E.U.A., Israel, etc… Eu não sabia, na altura, que estes produtos chegavam a países tão improváveis para mim como: Rússia, India, Israel, Japão, … Em Portugal existiu uma versão na SIC, com pouco impacto.

 

O México tem uma indústria grande de novelas, mas que actualmente trabalha pouco com “libretos” (guiões) originais. Mas ainda vi algumas produções como: “Las tontas no van al Cielo”, com Jacqueline Bracamontes e Jaime Camil muito divertidos no seu amor no meio de uma guerra entre a estética física (ele é cirurgião plástico) e a estética da alma (ela possui no mesmo edifício um instituto de apoio emocional).

 

A esta altura é evidente que tenho uma queda pelas produções dos países hispano-americanos. É verdade. Mas existe um país que para mim tem os melhores autores de novelas e que ainda não referi: Colômbia, conta entre os seus guionistas com Fernando Gaitàn e Mónica Agudelo (neste caso que em paz descanse a sua alma).

 

É numa versão mexicana chamada “La fea mas bella”, protagonizada por Jaime Camil e Angélica Vale que descubro o génio de Gaitàn. Mas a primeira tentativa de ver o original falha pela diferença de sotaque (apesar de o espanhol da Colômbia ser o mais parecido ao português).

 

Também confesso que a imagem que tinha construído do país Colômbia, por causa do cinema, das notícias do conflito com as FARC e a problemática com o pai dos mafiosos, Pablo Escobar, me faziam retrair na hora de assistir. Queria algo divertido e que pudesse descontrair e não estar a ver dramas. Estava muito longe da realidade. Ou melhor essa é apenas uma parte da realidade que estava visível, a outra que descobri é muito diferente e diria apaixonante.

 

Acabo a assistir a novela da colombiana de Mònica Agudelo, escrita com a supervisão do Sr. Gaitàn. A novela chama-se “La hija del Mariachi” e põe em evidência as diferenças entre os dois países Colômbia e México. Regada com muita música rancheira (música típica do méxico), e muito bem protagonizada por Carolina Ramirez, Mark Tatcher e um grupo de mariachi. A história começa quando o empresário “Emiliano Sanchez Gallardo”, personagem do protagonista tem de fugir para a Colômbia e passa a viver na pobreza e no anonimato, contando apenas com o apoio da até então desconhecida “Rosàrio”. As peripécias são muitas para ele se adaptar, e para provar a sua inocência, tudo regado com muita paixão, música e humor. Inesquecível. Daí a procurar o original do Senhor Fernando Gaitàn foi um passo: Yo soy Betty la Fea. Mas esse merece um post.

 

Entretanto também me aventurei pelas produções estadunidenses que se resumem a remakes de histórias que já tiveram o seu êxito, pela mão de Telemundo. Como nos Estados Unidos existe mais dinheiro as produções são mais cuidadas, mas as histórias são repetições essencialmente, ou no caso do original “Anita no te rajes”, seguem a formula da mocinha e do mocinho mas com humor.

 

A Venezuela também tem boas histórias, outro sotaque. Por exemplo a novela “Mi ex me tiene ganas” de Martin Hahn tem humor e muito, muito suspense. Descobri uma actriz brilhante nestas produções: Daniela Alvarado. O que me fez descobrir outras produções como “Un esposo para Estela” que nos põe em contacto com uma Venezuela mais campina. E nestas produções os portugueses aparecem muitas vezes retratados, tal é o seu impacto no paìs.

 

 

Em jeito de conclusão da primeira parte:

No que a mim me toca, através deste produto, a telenovela descobri a América Latina, os seus povos, os seus sotaques, aprendi o espanhol, as suas crenças, o seu folclore, … Aprendi que por se falar a mesma lìngua não significa que sejamos todos iguais, mas procuramos todos a mesma coisa: paz e amor.

 

Por isso se Portugal apostasse no género para algo mais do que entreter poderia levar o nosso país mais longe e mesmo fazer chegar mais e melhor informação aos que a elas assistem.

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