Que mania ! Nós, os rótulos, as fórmulas , os perfis, os padrões...
Scarlett O'Hara, os vàrios rostos de uma mulher!
O primeiro livro que devorei na vida, foi “E tudo o vento levou” de Margaret Mitchell. Digo, “devorei” porque apesar da história completa ter dois volumes, eu não demorei três dias a acabar a história. Sim era uma adolescente de 13 anos, cheia de energia, pouco dormi, e o livro acompanhou refeições, idas à casa de banho, …
E porquê? Que tinha o livro que me agarrou? Me apaixonou? Me fez consumi-lo?
A história.
As histórias que eu conhecia até aí, tinham jovens imaculadas, praticamente perfeitas, verdadeiras “princesas” a protagonizar.
Os “príncipes” eram há medida dos sonhos, talhados na nossa fantasia.
E a culpa dos problemas? Fácil. Eram sempre culpa das bruxas más.
A história de “E tudo o vento levou” já me tinha sido resumida por quem tinha visto o filme. Mas o filme, talvez pelas imagens antigas a preto e branco, na altura não me entusiasmou. Não o vi.
Até que um dia a bisbilhotar a pequena colecção do “Círculos de Leitores” que a minha mãe possuía, tropecei nestes dois volumes e comecei a ler.
No primeiro capítulo somos apresentados à protagonista: Scarlett O’Hara. E logo percebemos uma menina mimada, voluntariosa e teimosa.
Para mim foi o suficiente. Eu queria saber o que acontecia a esta protagonista que me tinha sido apresentada com tantos defeitos. Queria conhecer o desenrolar deste romance, que começava fora das fórmulas que eu conhecia.
Afinal existia mundo para além da Disney e seus seguidores.
O livro não me desiludiu! Tanto que o devorei! As personagens tornaram-se humanas com os seus defeitos e virtudes. Comecei a perceber que o que pode ser um defeito num primeiro impacto em certas situações pode transformar-se numa virtude.
A teimosia de Scarlett, algo egoísta no início, é irritante, mas vai ser indispensável para ela sobreviver.
Ensinou-me a questionar: Terei mesmo de ser perfeita? Terei mesmo de me transformar em algo que não sou, para sobreviver?
Com o livro também aprendi sobre a história da Guerra Civil Americana. Uma maneira mais interessante e divertida de aprender História. Que foge às fórmulas habituais: aulas de História.
A história é uma disciplina importante, visto manter vivo o passado na memória daqueles que não o conhecem. E desta forma evitar que se repitam os mesmos erros, e se inspire novos rumos. Mas a realidade é que os professores (a maioria diria) se limitam a despejar matéria durante uma hora e a pressionar para que os alunos decorem para testes. Não se preocupam como a matéria é apreendida, não se preocupam em tornar as aulas e matérias interessantes.
E conto-vos isto porquê?
Porque todos os dias, tropeço em pessoas que sofrem horrores a tentarem perecer-se aos demais.
Quando na realidade o interessante está em manter o que nos torna originais, o pormenor da diferença.
(Para quem acredita num criador: acham que se ia dar a tanto trabalho de criar biliões de seres todos diferentes, se isso não fosse importante. Teria sido mais fácil, criar uma fábrica e sacar-nos a todos do mesmo molde, não?)
Nós somos todos diferentes, com os mesmos direitos.
E isto é o que deveria vigorar, para felicidade geral.
Mas estamos completamente dominados pelo marketing, pelas modas, pelos instantâneos. Hoje em dia existem estudos, estatísticas, e sei lá mais o quê que nos rotula, que nos padroniza, criam-nos em perfis, …
Estamos a criar exércitos de pessoas com unhas lindas, sapatos fantásticos, e profundamente infelizes.
Estipulou-se que para ser mulher, tem de se usar sapatos de salto alto, apesar dos problemas de coluna que provocam, de não ficarem bem a todas e de algumas apesar do esforço ficarem ridículas a deslocarem-se em cima daquilo.
E os homens? A moda também está a ganhar terreno na forma como os manda vestir dentro dos padrões. Mas preocupante é: “homem que é homem tem de ser macho”. E o que é ser “macho”? Beber cerveja até perder a consciência e poder justificar qualquer parvoíce que façam com um: “eu não sabia o que fazia, estava bêbado!”
E depois a ideia subjacente de que os grupos não se misturam. Como se as mulheres com saltos altos tivessem de ser sexy’s e as que usam “sabrinas” não soubessem como é que isso se faz. E isso não é a realidade! Mas é assim que nos fazem pensar.
E os homens que não bebem, não fumam, são automaticamente betinhos! Mentira.
Nem os dicionários têm uma definição apenas! Definem conforme a circunstância.
O livro é interessante porque foge aos padrões, porque nos mostra que ser fiel a si mesmo não é fácil mas é o melhor caminho para manter a clareza perante as adversidades.
Não estaremos a complicar-nos a vida ao tentar parecer a todos os outros?
Ao tentarmos ganhar um rótulo, não estamos a assinar um atestado de infelicidade?
Ao comportar-nos dentro dos padrões de moda, não passamos a ser mais um, em vez de ser “o”…?