No uso da liberdade de me exprimir…
(à parte : o mini conto « A família reencontra-se ! » não será publicado hoje porque tenho uma coisa a dizer em relação às monstruosidades cometidas ontem, na cidade de Paris.)
Já muito se escreveu e eu não quero cair em repetições, por isso vou resumir os acontecimentos rapidamente:
Ontem, dia 7 de Janeiro de 2015, ao fim da manhã, na sede do jornal “Charlie Hebdo” em Paris, duas pessoas armadas interrompem uma reunião de trabalho e fazem doze mortos. A seguir fogem num carro guiado por um terceiro elemento.
Imagem in Diàrio Digital.
Aos que perderam os seus familiares e entes queridos nesta monstruosidade, desejo-lhes Força para enfrentarem este momento e os que se seguirão.
O mundo está em alvoroço e não é, para menos. Levamos milénios de luta para alcançar alguma dignidade e liberdade na Humanidade, e agora três indivíduos profundamente perturbados querem semear o medo para que nos calemos.
Alegam motivos religiosos para justificar os seus actos que não têm justificação possível, e colocam os verdadeiros crentes numa posição difícil, porque o medo tem tendência a colocar tudo no mesmo saco.
A verdade é que a teoria do dividir para reinar parece bem aplicada, basta ver o conteúdo dos comentários na internet.
Eles provocam uma chacina, dizem que é pela religião e temos logo meio mundo contra a religião em causa. Quase perfeito, não?
O assustador é ver as pessoas a tentar encontrar culpados, que desculpem ou justifiquem esta barbaridade. Não existem mais nenhuns culpados a não ser este três seres que não sei como adjectivar porque até a palavra “monstro” me parece pouco.
O ser humano é dotado de formas de comunicação suficientemente eficazes: falar, escrever, desenhar,… Não concordo, não gosto emito a minha opinião, mostro o meu desagrado comunicando-o (até uma cara de birra funciona), argumento, mostro outro caminho, escrevo, mas não pego numa arma e vou por aí aos tiros. Isso é para mentes profundamente perturbadas, doentes, manipuladas quiçá por interesses maiores de cobardes que se escondem confortavelmente.
Outra coisa que me deixa preocupada é ver a forma como as pessoas reprovam este acto de intolerância com mais intolerância. Os comentários a dizer para se fecharem fronteiras e outros de nível mais xenófobo são alarmantes.
As pessoas não percebem que estão a cair no jogo cujas regras, estes três elementos lançaram ontem: ser intolerante com o que não nos agrada?
Não podemos aceitar este tipo de comportamento terrorista. É necessário mostrar-nos unidos e contra este tipo de comportamentos. É necessário que as autoridades actuem e actuem bem. Mas queremos mesmo alimentar uma guerra em que a maioria são inocentes? Queremos mesmo travar esta luta no terreno que eles tão bem conhecem e dominam: a guerra, a violência?
Eles lançaram as sementes do terror, vamos colhê-las?
Não sei o futuro, e temo por ele. Mas como que prevendo o futuro se lhe seguirmos o jogo, vejo-nos em guerra, com milhares a passar fome, sem acesso a saúde, a justiça, e a perderem-se inocentes de um lado e do outro. Muitos lançados de um lado ou do outro das trincheiras sem entenderem bem porquê e a pagar preços altíssimos por uma situação que não escolheram mas que não lhe deram alternativa. E no fim nada. Apenas alguns seres mais ricos e poderosos: as empresas de armamento e os seus aliados. Não é este o retrato de todas as guerras? Será o ser humano tão básico que acabe sempre a cometer os mesmos erros, a cair nas mesmas estratégias? Não aprenderemos nunca?
Creio que é hora para nos unirmos de todos os lados: católicos, africanos, islamitas, adeptos do Benfica, jardineiros, senhores doutor, alcoólicos, fumadores, brancos e assim-assim, …
Mostrarmos que a tolerância à diferença é possível e que quem não concorda pode fazer como diz o imã português: " Se não estão satisfeitos em viver num país liberal, podem emigrar e deixem-nos em paz ". Usem as liberdades que têm, que nós não vos tiramos.
E mais importante é perceber que estes actos são normalmente praticados por pessoas relativamente jovens. Talvez manipulados por mais velhos, mas que não querem aparecer na frente de batalha. Está na hora de acordarmos para a educação dos nossos cidadãos, das nossas crianças e jovens.
E quando digo nossas, refiro-me a todas as que habitam a esfera terrestre. Porque não vale semear uma educação neste canto do planeta e esperar que o outro lado não nos exploda na cara. Está na hora de pensar em aldeia global para além da internet.
Está mais do que visto, ao fim destes milénios de existência que governar através da manutenção da pobreza de alguns só nos traz problemas a todos.
Isso é um problema para os nossos governantes resolverem, mas está mais do que visto que é necessário que a população se movimente nesse sentido, porque se não o assunto será chutado para canto até que volte a explodir-nos na cara.
E o que é que cada um pode fazer? Como é que eu posso fazer diferença no meu dia-a-dia?
Dando o exemplo, emitindo opiniões e contra opiniões usando os meios de comunicação ao alcance de todos e não exercendo violência, educando os seus filhos para aprenderem a questionar, a pensar, a procurar respostas, e a respeitar liberdades alheias, a terem a sua auto estima onde a simples opinião de terceiros não os faça descer os nível ao ponto de agarrar numa arma. Fazendo o seu trabalho de casa e não inflamando comportamentos racistas, xenófobos, violentos.
Fica aqui a frase de um líder que me parece que escutámos pouco:
“Ninguém nasce a odiar outra pessoa devido à sua cor da pele, ao seu passado ou religião. As pessoas aprendem a odiar, e se o podem fazer, também podem ser ensinadas a amar porque o amor é mais natural no coração humano que o seu oposto.” – Nelson Mandela.
Este senhor defendeu a educação como chave para a Paz no mundo, e eu concordo com ele.
Vamos contradizer as intenções deste acto monstruoso, e vamos semear a Paz educando os filhos do mundo, incluindo os destes bárbaros para a tolerância à diferença!