E a família reencontrou-se !
Parte I - A preparação para do reencontro!
Imagem do site Dibujos Ideia Criativa.
Em frente ao espelho da casa de banho, Maria Aerdna penteia o cabelo e, verifica se o rímel ficou discreto ou está demasiado evidente. Não está habituada a usar maquiagem muito elaborada, mas a ocasião pede algum empenho.
Vai passar a noite de consoada com o seu companheiro, a casa da sua Ti’Lice. Será aí que este ano se reúne a família.
A família não cresceu muito, e até se foi separando ao longo dos últimos anos. Alguns partiram para o descanso eterno, em troca nasceram novos primos. Uns migraram, outros emigraram e alguns separaram-se. No Natal tenta-se reunir toda a gente. Juntam-se aqueles que os empregos permitem, por dinheiro, disponibilidade...
E nesta altura que os parentes com casas maiores se oferecem como anfitriões tentando manter algum sentido familiar à data. Este ano decidiu-se que seria a casa da Ti’Lice a acolher-nos.
- Maé! Demoras? – Pergunta do quarto Manel Pedro.
-Não. Coloco os sapatos e podemos sair.
- Então não te importas de me ajudar?
Ela revira os olhos. E chega-se à ombreira da porta do quarto.
- Ajudar-te? Em quê? – Pergunta a olhar para ele com as calças vestidas, mas por apertar e com a camisa no mesmo estado. – Tu mudaste de roupa, outra vez?
- Sim. A outra não me favorecia. Não estou melhor assim? – Diz fazendo um movimento para se colocar de frente para ela.
- Sim. – Responde não muito convencida.
- Tens a certeza? Não pareces muito convencida. – E apronta-se para tirar a camisa.
- Não tires. Estás muito bonito. Mas ainda te falta muito e o tempo corre. Não quero dar motivos para estarem toda a noite a dizer que “a pontualidade é um valor que se perdeu com as novas gerações” e … tu já sabes.
- Sim, sim, eu sei. E por isso preciso da tua ajuda. Colete e gravata? Ou só colete? Ou só gravata?- pergunta enquanto fecha a camisa.
- Colete? Gravata? Tu não vais para uma cerimónia. É apenas um jantar de família. – Ela responde-lhe com preocupação.
- Sim. Eu sei. – Explica-lhe ele em tom lento e soletrado. – Mas vai estar toda a família. Vêem os teus primos que estão no estrangeiro. E lá até podem passar necessidade, mas quando cá chegam sentem-se os maiores. E aquele teu primo Vicente, vai chegar cheio de mania.
- E tu de colete e gravata, não vais aparecer cheio de mania?
- De que lado estás? – Pergunta-lhe enquanto de aproxima já com a roupinha toda aprumada.
- Do teu. – Assegura-lhe. – Até acho que devias colocar pisco e fraque. – E sorri.
- Gravata pelo menos. Dá um arzinho.
- Ok. Quem vai estar encoleirado és tu. E se achas que vale o esforço, eu apoio.
- Não gostas de ter ao teu lado o homem mais bonito da sala?
- Sim. Mas não gosto de exibir os meus trofeus. Prefiro deixar algum mistério. – Sussurra-lhe. – Mas vamos lá escolher uma gravata.
Passado um quarto de hora, ele já está vestido na casa de banho a dar os últimos retoques.
Maria Aerdna aproveita para enviar os sms de Boas Festas para os amigos. A mensagem tem de ser escolhida e personalizada, para não parecer demasiado desleixada e nem demasiado pessoal para aquelas pessoas que nos são menos chegadas. O tempo que ele demora a dar os retoques é suficiente, afinal estamos na era da metrossexualidade.
- Olààààà! – O Manel Pedro da casa de banho com ar triunfante e sexy.
Ela olha-o, levanta-se, aproxima-se, sente o perfume, beija-o. Por um momento o mundo desaparece. Ela deixa-se levar pelo pequeno momento íntimo e cúmplice.
- Estás… - e finge perder o fôlego. – Não te largo toda a noite.
Ele sorri.
- Quem não te larga sou eu. – Diz-lhe fazendo-a rodopiar, e piscando-lhe o olho.
- Só lá vai estar família. Em princípio. – Lança a dúvida.
- Em princípio.
E deixa-a a passar à frente, e finalmente batem a porta da casa.
No carro:
- Colocas-te os presentes todos na mala?
- Sim. Não te preocupes. – Responde-lhe ele e coloca a mão no joelho dela como que para reconfortar.
- Até o saco azul com as prendas de emergência?
- Sim.
E arrancam…