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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Sobre adaptação e integração em novas culturas! Testemunho III – Carla Tavares

Emigrar nem sempre é sinónimo de procura de riqueza, na maior parte das vezes procuramos apenas uma oportunidade. Procuramos essa possibilidade de ser e deixar ser. Procuramos onde o que somos capazes de fazer, seja retribuído dignamente e com respeito.

 

A Carla Tavares emigrou para a Alemanha, à procura dessa oportunidade e gentilmente aceitou deixar aqui o seu testemunho:

 

"Escrevo, não para dar-vos a conhecer um pouco do meu percurso mas, para dar-vos o meu parecer em relação a este tema. Claro que, sair do nosso país, implica uma mudança total nas nossas vidas. É um acontecimento "fantástico" conhecer pessoas, conhecer outras culturas, num país diferente, cheio de oportunidades, etc...

 

Sair da minha área de conforto não foi nada fácil. Apenas foi, no sentido em que apanhei o avião e em duas horas cheguei ao meu destino.

Saí, não por motivo de desemprego, porque tinha o meu trabalho, que nem era nada mau. Recebia pouco mais que o ordenado mínimo e até gostava muito do que fazia. Mas havia um problema que infelizmente afecta uma grande parte da população em Portugal: era constantemente vítima de assédio moral, pela minha chefia. Pressão, que me afectou psicologicamente. Durou anos e se propagou cada vez mais ao longo do tempo. Já para não falar nas vastas irregularidades que a empresa cometia.

Mas, no meio disto tudo tinha o apoio da minha família e amigos que me ajudaram a ultrapassar momentos horríveis. Sobretudo uma amiga em especial, que me acompanhou em situações pavorosas e a pessoa que hoje é o meu noivo, lutou comigo, deu-me forças para não desistir. E não desisti.

Fui ao ACT, Tribunal de Trabalho, advogados, fiz o que pude e o que não pude. “E factos visíveis?” “Algo mais concreto.”

Mesmo com testemunhas e anotações, não eram evidências suficientes para provar em tribunal. Falei com o procurador do tribunal de trabalho, mas mais parecia uma visita a um psicólogo. Diz por fim  "quando assim for, ponha baixa:.

Indignada, cansada de não conseguir qualquer resolução, só pretendia desistir de tudo. Mas continuei.

 

Surgiu então ao meu noivo a oportunidade de trabalhar fora e não ponderou. Para além do país estar socialmente e economicamente em estado crítico, para ele era um desafio e uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Finalmente iriam também acabar as dores de cabeça que a minha entidade patronal me causava e passaria a estar com a pessoa que amo. Foi então que me despedi do meu trabalho para me juntar a ele nesta nova etapa da nossa vida. Um por dois e dois por um.

O mais complicado foi mentalizar-me que só voltaria a ver a minha família num espaço de longos meses e vice-versa. O que não é tão crítico assim, pois é a vantagem de se ficar num país Europeu (se fosse fora da Europa, como chegámos a ponderar, seria bem pior).

 

Cá estou eu, a cerca de 2100Km de distância de Aveiro. Emigrei para Alemanha.

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Quando cá cheguei era tudo novo para mim, pois nunca tinha sequer imaginado o que é viver num país que não é o meu. Era Outono, a brisa estava fresca, mas agradável, as ruas cobertas com folhas de todas as cores. Uma cidade organizada, não muito grande, mas bonita, Dusseldorf.

Ao conhecer a cidade, gostei do que vi. Com o passar dos dias fiquei um pouco desorientada, pois estava habituada ao meu ritmo diário. Ao mesmo tempo pensava em arranjar trabalho. Eis a questão: E a língua?

O pouco Inglês que sabia só para me desenrascar, usava-o quando ia às compras, por exemplo. Mas no entanto, havia aquelas respostas desagradáveis “nein” (não). Não facilitam tentando falar outra língua, senão a deles. E depois sem um único sorriso, nem um gesto delicado.

A sensibilidade de um bom atendimento não parecia existir!

As compras eram passadas nas caixas à ” bruta” sem sequer ter tempo para as pôr no saco. Se não fosse rápida o suficiente, já estava a levar com as compras do outro cliente em cima. Só aí, ficava desanimada durante algumas horas.

 

Neste momento estamos noutra cidade: Frankfurt. É uma cidade com muita imigração. As pessoas em geral são frias como o tempo. É preciso muito tempo para conseguir a confiança delas. Mas aqui, já sinto um pouco mais de simpatia, porque é uma cidade repleta de imigrantes. Também me apercebi que as pessoas ficam muito mais abertas e acessíveis, quando tento interagir com elas no mesmo idioma.

Há imensa gente rica neste país. A economia é bastante elevada, não há Crise.

Nós imigrantes somos empregados a baixo custo, mas para nós que somos um povo trabalhador em comparação ao vencimento que se recebe no nosso país, ficamos todos contentes. E dá perfeitamente para pagar as contas e alimentação sem estarmos preocupados em contar os trocos para que estes cheguem até ao fim do mês.

Por outro lado, vejo tantos sem abrigo, que me chocou imenso. Eles existem em toda a parte, é verdade, mas mesmo assim não imaginava que pudesse haver tantos num país como este.

Aqui a cultura é bastante diferente. As pessoas levantam-se cedinho para irem trabalhar e depois mais cedinho retornam a tempo de estarem com os seus. Os serviços encerram cedo: sete horas e no máximo oito horas da noite. Ao Sábado também se trabalha, uns encerram mais cedo relativamente aos dias da semana, mas ao Domingo, ao Domingo não se trabalha, excepto algum cafezito ou lojas de conveniência. Os tempos de descanso tornam-se mais longos.

As pessoas dedicam-se á família, passeiam com os seus filhotes nos parques. Parques com bastante relvado e muito espaçosos, onde todas as crianças se divertem e depois fazem o piquenique à sombrinha de uma bela árvore. Passeiam de bicicleta e em dias de trabalho vão de bicicleta. As pessoas são bastante descontraídas e práticas.

 

Tomo o meu café em casa e comer fora só se for de vez em quando uma pizza, pois pessoalmente não gosto da gastronomia alemã, excepto das salsichas e do “schnitzel” (bife panado). Aqui utilizam excessivos molhos e especiarias.

Aliás, um exemplo: só encontro á venda uma única variedade de batatas fritas em pacote, as famosas “Lay’s Light”, pois as outras todas são de todos os sabores e mais alguns. Ou então nada melhor do que ir à lojinha portuguesa, para me sentir “em casa”, e não deixar de tomar o “expresso” e o delicioso pastel de nata.

Passo uma grande parte do tempo em casa, envolvida nos meus trabalhos, por isso tenho pouco contacto com as pessoas mas, mesmo assim estou a integrar-me melhor na sociedade.

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Por vezes sinto-me de mãos atadas por não conseguir interagir, conforme a minha necessidade. Claro que estou aprender a língua e nem há um ano cá estou portanto, os piores anos são estes, a adaptação. Termos alguém com quem partilhar o nosso espaço é tão bom, tão importante, onde não conhecemos nada nem ninguém.

O tempo passa e as saudades ficam. Começo a sentir mais a falta da minha família. Quando os ouço, parte-me o coração de não os poder abraçar. Falta-me o barulho das ondas, sobretudo para recarregar energias. Claro que tenho todas as energias do meu noivo, mas não substitui as energias da saudade das pessoas que deixei para trás; do meu lar que deixei para trás; do meu mundo que deixei para trás. Aqui não me sinto em casa, mas é o que tenho.

Um mundo diferente e tento-me adaptar e reinventar-me todos os dias.

Já não tenho muito acrescentar, às vezes é preciso sair do nosso casulo, do nosso planeta, para entender verdadeiramente um mundo diferente cheio de linhas curvas, em todos os sentidos, e aí temos que as seguir, decifrá-las e continuar no sentido de chegar a um bom caminho.

Eu estou num bom caminho." - Texto e fotos de Carla Tavares

 

A Carla lançou a sua marca de Malas e acessórios de moda, a "Pardalita Collection" que podem conhecer aqui: http://www.facebook.com/PardalitaCollection.

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Para além da "Pardalita Collection", a Carla é uma artista com várias facetas. Eu sou fã dos seus desenhos. Partilho alguns neste vídeo:

 

Para ler também a primeira parte do testemunho de Andrea Abreu (França), clique aqui.

Para ler também a segunda parte do testemunho de Andrea Abreu (França), clique aqui.

Para ler também o testemunho da Elena Oliveira (Venezuela-Portugal), clique aqui. 

Para ler também o testemunho da Ana Leão (Canadà), clique aqui. 

Para ler também o testemunho da Carla Vieira (Alemanha e França), clique aqui.

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