O tabaco, o álcool, os assassinos tolerados…
Vi a notícia que dá conta de alterações à lei do tabaco, e fico com a sensação que estou num “teatro” onde os actores em cena mentem/representam como corresponde e é preciso que eu acredite na sua mentira consentida para que a obra seja um sucesso! E eu não acredito na encenação, apenas sei que a obra é importante!
"No entanto, a nova rotulagem só vai começar a ser usada nos maços a partir de 20 de maio de 2016, data até à qual ainda é permitida a produção ou importação em território nacional de produtos rotulados na redação da anterior lei.
A partir dessa data, é estabelecido um período de um ano (até 20 de maio de 2017) para escoar as embalagens antigas.", no SIC Notícia. (Tanta tolerância e preocupação com stocks com algo que mata tanto, não?)
Tanto dinheiro gasto na luta contra o tráfico de drogas, por este mundo fora. Tanta vida perdida na luta contra o tráfico de drogas por este mundo fora. Fica-me a pergunta: PORQUÊ?
Essas drogas matam e por isso são combatidas? Ou o comércio dessas drogas vale muito dinheiro e por isso se luta pelo controlo desse mercado?
Por que é que me faço estas duas perguntas?
Ao mesmo tempo que se luta contra o tráfico de drogas e se derretem milhões de dólares e se colocam vidas em risco, permite-se que as pessoas consumam de forma irresponsável e mal informadas, outras com efeitos muito parecidos às que são combatidas.
Falo do tabaco e do álcool.
O efeitos prejudiciais do tabaco depois do processo nos EUA, ficaram difíceis de disfarçar, então os Governos fazem uma ginástica entre os “avisos” à população e as medidas para diminuir o seu consumo, ao mesmo tempo que tentam equilibrar para que este produto continue a gerar receitas de impostos e receitas bastantes lucrativas à indústria da saúde (com todas as doenças associadas ao consumo do tabaco que têm de ser tratadas) e claro às farmacêuticas que vendem os seus produtos como chuva numa tempestade para aliviar os sintomas do sofrimento de tão mal informado consumidor de tabaco.
Ou seja com o consumo de tabaco todos ganham: a agricultura do tabaco, a indústria tabaqueira, os governos, a indústria da saúde e as farmacêuticas. Todos ganham menos o que o consome, que perde qualidade de vida e hipoteca a velhice a gastar os trocos que juntou em anos e anos de vida de trabalho, para os gastar a tentar recuperar alguma saúde perdida.
" Mortalidade atribuível ao consumo de tabaco: A morbilidade e a mortalidade associadas ao consumo de tabaco apresentam um tempo de latência de duas ou mais décadas, pelo que as mortes observadas atualmente traduzem os padrões de consumo registados nos finais do século passado. Estima-se, segundo a OMS e a Comissão Europeia, que o consumo de tabaco seja responsável pela morte anual de:
• 5,4 milhões de pessoas a nível mundial;
• 650 000 pessoas na União Europeia;
• mais de 10 000 pessoas em Portugal (WHO, 2008; European Commission, 2009)." no Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo da DGS.
O que descrevo não é nenhuma "regra", mas não anda longe dela. Só tive noção dos reais efeitos do tabaco quando deixei de fumar depois de 10 anos de consumo e percebi a diferença. Acabou por me cair a ficha quando vi morrer gente pela degradação da sua saúde patrocinada pelo consumo de tabaco.
Imagem do site CISA.
E se o tabaco é mau, quando se lhe junta o consumo do álcool a coisa piora.
Mas é no consumo de álcool que mais desleixo se vê na prevenção, tanto por parte dos governos como por parte das entidades de saúde. Inclusive a OMS que é tão célere a mandar directivas para diminuir o número de cesarianas como se as condições de um parto fosse algo totalmente previsível, não tem uma opinião tão vincada nem directivas tão amplamente divulgadas sobre o consumo deste destruidor de organismos.
"Quando existe um consumo excessivo de álcool, algumas consequências são imediatas como perda da coordenação das pernas para andar, falha de memória e fala lentificada, por exemplo.
Porém, o consumo prolongado de bebidas alcoólicas pode afetar praticamente todos os órgãos do organismo, provocando desde gastrite, pancreatite, hepatite, impotência, infertilidade e até cirrose hepática, que podem levar à morte." - Dr Arthur Frazão.
Se o consumo moderado de álcool é tolerado pelo organismo, os excessos são violentamente combatidos por ele. Apesar disso, temos uma lei frouxa a regular a venda de álcool. Apesar das mortes causadas pelo consumo deste artigo, temos cada vez mais publicidade que é cada vez mais apelativa ao seu consumo.
Parece que as pessoas de hoje são incapazes de enfrentar uma reunião sem o ânimo de um conhaque, ou incapazes de gerir a ansiedade sem um café com “cheirinho” numa mão e um cigarro na outra. Estamos a chegar a uma altura que ninguém conhece a real sensação de se divertir, porque é incapaz de o fazer sem o recurso a uma “birra” (calão para cerveja).
As pessoas não se tornaram de plástico apenas por fora com quilos e quilos de maquilhagem para disfarçar noites por dormir ou botox para “enganar a idade, as pessoas tornaram-se emocionalmente falsas, porque as suas emoções são mascaradas com o recurso a estes assassinos tolerados: o tabaco, o álcool, os ansiolíticos, os antidepressivos, a marijuana, e drogas no geral.
Para mal dos seus consumidores, mas para prazer lucrativo dos produtores de medicamentos deste mundo.
O mais terrível deste quadro é que o recurso a estas “muletas” é feito cada vez mais cedo. Os jovens, sem experiência de vida, sem os limites estabelecidos pelas vivências, tendem a exagerar e já não bebem uns copos, eles não param até encontrarem o coma alcoólico. Nestas idades, onde tentamos encontrar o nosso lugar no mundo, e onde a opinião alheia é um importante orientador, acabar por confundir um riso trocista pelo nosso estado alcoólico com um sorriso aceitador é meio caminho para o desastre.
Hipoteca-se a vida em tenras idades. Substituímos as Sopas de Cavalo Cansado (sopas de vinho que eram dadas também aos mais pequenos até pelo menos os anos 60/70), por shots e drinks coloridos.
Não sei, não entendo nada, mas acredito que a raça humana podia ser um bocadinho melhor que isto.
Sem garras aterradoras, sem dentes demolidores, sem atingirmos velocidades loucas fomos capazes de sobreviver à pré-história cheia de predadores mais fortes do que nós. Acredito, como diz Eduardo Galeano (escritor uruguaio) que fomos capazes de sobreviver porque nos unimos, porque partilhamos comida, porque construímos uma sociedade de partilha. Mas, estamos cada vez mais seres individuais, e cada vez mais presas fáceis dessa nossa individualidade: sozinhos não temos força para exigir melhores legisladores, melhores governos, instituições mais bem organizadas e realmente preocupadas com o nosso bem-estar.
A raça humana foi ultrapassada pelas suas próprias criações: o dinheiro e a sede de lucros que veio com ele.
Actualmente é mais importante para uma empresa mover números, do que fazer alguma coisa real pela humanidade.
Associamos o virtual, ao mundo dos computadores, mas a virtualidade existe para lá dos seus ecrãs, nas empresas com objectivos fantasma, não estatísticas manipuladas, na impunidade dos que atentam em nome da sua ambição contra os interesses da maioria, …
Não precisamos de “terroristas” que nos venham matar, nós fazemos isso muito bem, sozinhos.
Apesar de tudo é melhor que não se lance nenhum tipo de medidas para combater estas drogas consentidas, para não ficarmos como hipócritas incapazes na fotografia? Claro que não. Qualquer passo, é um passo e se for na direcção do combate a estes males é um passo bem dado.
PS: Há uma coisa que me aflige muito: a ideia dos Homens que acham que foi sempre assim, não se pode mudar. Pode-se mudar, sim senhor. Deve-se mudar. As mudanças existem e devem acontecer. Se não existissem mudanças, provavelmente não existiríamos, ou seriamos ainda bactérias numa sopa oceânica, e no pior dos casos ainda viveríamos em cavernas geladas a comer carne rasgada com pedras (apesar de tentar descrever a falta de mudança na vida, acabei por descrever algumas.)
Precisamos mudar! E muito!