Presidência da República: vamos escolher “a sério” ou colocar a “cruz” no boletim à sorte? E isso faz alguma diferença?
O Presidente da República é um representante do povo, eleito pelo povo. Na hora do voto, o povo podia fazer diferente, mas não faz, porque escolhe aqueles com quem se identifica e não quem podia fazer alguma coisa realmente útil. É como se o colocassem em frente a um espelho e ele se apontasse a si mesmo.
Sim, é difícil admitir os nossos defeitos, mas somos nós que escolhemos, por isso as pessoas que assumem os lugares do Poder no nosso país são a imagem semelhante do povo que os elegeu. Admitamo-lo, para ver se o começamos a corrigir.
Eles vão sempre tentar ser aquilo que acham que nós queremos, dependem disso para serem eleitos, então é melhor que pensem que o queremos é realmente gente séria comprometida com o bem comum e não com o bolso próprio.
Existe alguém que não tenha ficado indignado com o caso das “Subvenções Vitalícias”? E ainda bem que foi dado a conhecer um bocadinho antes da ida às urnas, mas vai fazer alguma diferença?
Estou muito curiosa para saber, quantos votos vai arrecadar uma candidata que usa o seu cargo para zelar pelos seus direitos, mas que quando é chamada para cumprir a sua função de zelar pelo bem comum faz-se de “morta” (falo do Orçamento de Estado). O meu voto não tem com certeza, porque esse tipo de pessoa não me representa.
A fase das campanhas parecem-me sempre uma fantochada com demasiado roteiro e muito pouca realidade. Parece sempre que se candidatam a um país virtual e não a um real, com pessoas de carne e osso. Os discursos são feitos numa linguagem longe da entendida pelas pessoas que votam. As discussões em vez de se centrarem naquilo que pode ser uma solução para determinado problema, centram-se quase sempre na troca de insultos.
Os próprios candidatos, não acreditam em si mesmos e isso nota-se nos discursos onde constantemente chamam a atenção para os erros alheios e não para os seus feitos e propostas.
A imprensa está em crise e isso sobressai pela falta de matérias jornalísticas que apresentem os candidatos por outros ângulos, que não os da máquina de marketing político. (Que já agora custa demasiado caro ao bolso do contribuinte. Uma “doce” ironia, o contribuinte paga para sustentar máquinas que se especializam em mentir-lhe.)
Então cabe a cada um de nós tentar perceber “quem é quem” por detrás da brilhante maquilhagem que usam para nos confundir e conseguir o nosso voto.
Isso dá um bocado de trabalho. Talvez demasiado trabalho, porque já nem a imprensa consegue cumprir essa função.
Mas o povo faz algum tipo de exercício no sentido de tentar perceber quem são os candidatos? Não me parece. Pelo menos a maioria, não está para se chatear.
Reparei numa coisa:
Saiu uma notícia sobre um gasto absurdo em faqueiros e ao ler os comentários nas notícias encontrei um povo indignadíssimo. E muito bem!
Saiu uma notícia de um candidato que em vez de se passear em caravanas de limusines, pegou e usou o seu tempo de antena para chamar atenção para um problema social grave que é a mendicidade, e as caixas de comentários estão cheias de críticas. As críticas variam entre ele não tem estaleca para a Presidência ou isto é um circo.
No meu entender, seria um circo, se ele fosse ver os mendigos com a câmera de tv atrás. Não tinha necessidade de dormir na rua, se quisesse fazer apenas política. Mas ele tentou entender o problema e colocar os outros a discuti-lo e isso parece-me uma atitude que eu admiraria e agradeceria, em alguém que me representa.
Vai ganhar? Não acredito, porque apesar de criticarmos a ostentação política, nós escolhemos para sentar nos cargos governativos sempre o "pavão" mais ostentoso.
Afinal o que é que o povo quer? Gente que compra faqueiros que não matam a fome a ninguém, ou gente que tenta entender os problemas e unir as pessoas na procura de uma solução?
Acho que não sabemos.
Não nos informamos, somos preguiçosos, acreditamos em receitas velhas e comprovadamente erradas e não temos vontade de perceber que podem existir outras soluções.
Temos maus políticos, porque os escolhemos à nossa imagem e semelhança. Preferimos um político que nos diz o que queremos ouvir mesmo que dois minutos depois o estejamos a criticar, do que nos informamos para escolher aquele que mesmo não dizendo o que queremos pretenda fazer o que precisamos.
O Uruguai teve o Presidente mais pobre do Mundo, o Señor José Mujica, e isso não o impediu de crescer, de diminuir a mendicidade, de aumentar a alfabetização, e outras coisas que ainda requerem trabalho, mas que foram encaminhadas apesar da falta de ostentação do seu Chefe de Estado.
(Isso não quer dizer que ache que o Sr. Tino de Rans seja igual ao ex-Presidente do Uruguai. Acho que "o nosso candidato" precisa de uma polidela cultural que o ajude a expor melhor as suas ideias, mas com certeza está mais perto de conseguir o meu voto do que a Sra. Maria de Belém. Isto apenas a título de exemplo.)
Porque é que não nos informamos melhor, em vez de atirarmos à sorte uma cruzinha no boletim de voto num candidato conhecido? Porque não nos demos ao trabalho de conhecer os outros? Porquê?
Depois rezamos “Seja o que Deus quiser” e ele quer que aprendamos com os nossos erros, e nós insistimos neles.
O povo tem de fazer mais que indignar-se! Grande parte da solução do país não está nas mãos dos que governam actualmente. Eles neste momento são títeres do poder económico. Está na mão do povo que os escolhe, que também precisa de mudar os seus valores e atitudes, começar a ser mais participativo, mais presente para fazer as coisas acontecerem.
Neste momento somos um povo que critica a compra de uns faqueiros, mas depois vai gastar o ordenado todo em saldos! Acho que isso quer dizer alguma coisa.
Somos governados por gente que se limita a ler relatórios. Agora imaginem-se sentados na cadeira do Poder, com o relatório na mão onde diz que “x” portugueses gastaram em prendas “y”, que os lucros das lojas foi “z”, e têm “os mercados” a zumbir no vosso ouvido que é preciso cortar nos ordenados. O que é que vocês fariam? Vinham para a rua verificar a veracidade dos dados? Ou tomavam a decisão de consciência limpa, afinal tinham na mão as provas daquilo que a sustentou?
Para reflectir!!!
Precisamos ser mais exigentes, para escolher candidatos mais exigentes que cheguem lá e não tenham medo de dizer “alto lá”, vamos regular esse sector como deve ser, porque a igualdade além de estar consagrada na Constituição Portuguesa, também é geradora de Paz.
Este mundo precisa tanto de Paz!
Mas, vejamos o caso Europa: durante anos gabamo-nos de sermos tolerantes, mas bastou alguém diferente precisar de ajuda, que o verniz estalou e o racismo escondido veio logo à tona. Temos de aprender a conhecer quem realmente somos, para não nos enganarmos tanto quando fazemos escolhas.
Vivemos numa sociedade onde uma imagem vale mais que mil actos, e isso não nos está a ajudar. Estamos cada vez mais pobres e menos livres.
Já repararam como a nossa liberdade tem vindo a ser condicionada de forma lenta, mas eficaz: temos de declarar tudo o que compramos, tudo o que vendemos, agora até o saldo bancário vai ser do conhecimento fiscal.
E tantas outras coisas: sabem o nosso estado de saúde, vigiam o nosso percurso na net, privatizaram-nos a água, a casa nunca é realmente nossa, o carro paga tantas taxas que parece que nunca o chegamos a pagar, reciclamos e pagamos o tratamento dos lixos que geram lucros a empresas, etc…
Sabem tudo e mais alguma coisa. Fazem-nos pagar tudo e mais alguma coisa das mais diversas maneiras. E isso tem ajudado a sociedade a ser uma comunidade feliz?
Não. Temos cada vez mais violência, temos cada vez menos dinheiro e isso só por si condiciona todas as nossas outras liberdades.
Sabem quem é que nos tem desenhado este mundo em que vivemos actualmente?
Sim, os candidatos que elegemos.
Escolher, porque conhecemos não é garantia de nada. Vejamos o caso do actual Presidente da República que tem um percurso político longo, que sabe vestir-se, que sabe falar, que tem etiqueta, e que na hora da verdade não soube defender os interesses da maioria.
Sim, porque nós, a maioria, temos de declarar até a pensão da avó que vive connosco para conseguirmos em caso de dificuldade uma ajuda do Estado.
E os senhores políticos usam o seu cargo, para garantir que têm ajuda do Estado sem ter de declarar coisa nenhuma.
Se isto não é um atentado à igualdade consagrada na mãe de todas as leis portuguesas, a Constituição Portuguesa, eu não sei o que será.
Espero que reflictam muito bem, antes de irem lá colocar a cruzinha.
Para lembrar, ou relembrar, deixo uma frase que devia ser colocada em todos os espelhos de casa de banho de políticos para que se lembrem da sua real função:
"Deputados são REPRESENTANTES. Não são empregados nem funcionários. Não podem usar os poderes que lhes são conferidos para defender todos e dedicá-los a interesses corporativos, como se não soubessem aquilo que o povo que representam acha das subvenções vitalícias", Rui Tavares, no Público.