A PENSAR NA HIPERACTIVIDADE INFANTIL...
O meu filho de 7 anos aleijou-se num joelho a jogar futebol no recreio da escola. Fui chamada para o ir buscar e verifiquei que a ferida justificava uma visita ao hospital. Passamos a tarde no hospital onde ele foi suturado com 3 pontos. O procedimento foi todo feito para que ele não sentisse dor, o que eu agradeci.
A médica que o assistiu entendeu que ele devia ficar restringido nos desportos durante um período de 10 dias. O atestado foi passado e entregue na escola.
O meu filho vai para a escola todos os dias a pé. O trajecto é de cerca de 1km e faço questão que seja feito a pé, porque foi assim que quando nos mudamos para cá conseguimos inserir-nos na sociedade local. Como nos movimentamos a pé pela vila, as pessoas começaram a conhecer-nos e nós a elas, afinal cruzamo-nos todos os dias (coisa que os trajectos de carro não permitem, acabando por contribuírem para o isolamento e eu não quero).
Com o joelho condicionado, resolvi durante esse período de 10 dias usar o carro para o trajecto até à escola. E descobri uma coisa que quero partilhar, porque pode inspirar algum investigador a corrigir o mal que se faz às crianças com as medicações precoces para a suposta “hiperactividade”.
O facto de o meu filho ter um joelho “cosido” não o impediu de ao fim de 3 dias andar a trepar às árvores com os amiguinhos durante um jantar convívio. (Demasiada energia acumulada, a ser libertada, apesar de não ter querido tomar a medicação que a médica prescreveu para as dores, facto que eu respeitei).
Fui mantendo contacto com a professora para saber como é que as coisas estavam a correr. E ao fim de uns dias ela comentou-me “o seu filho está muito agitado, não tem parado quieto”.
Não é normal ela queixar-se que o meu filho perturbe a aula por não estar quieto. O normal é ele falar pelos cotovelos mas, tirando isso, é sossegado.
Falei com ele. E ele disse-me que andava a sentir o “bicho-carpinteiro”. A expressão vem de um livro que temos cá em casa acerca do assunto “não conseguir estar quieto na sala de aula”. Pedi-lhe que fizesse um esforço.
Entretanto o joelho curou-se e voltamos à nossa rotina diária, ele voltou a poder brincar no recreio escolar e a praticar os seus desportos.
Eu andava preocupada com o que a professora tinha dito e ia questionando o meu filho acerca do assunto. Um dia ele respondeu-me: “está tudo bem, deixei de sentir o bicho-carpinteiro”.
“Ok!”, pensei. Voltei à escola e perguntei à professora como é que estavam a correr as coisas. Respondeu-me “Tudo bem.”
A situação ficou a rondar-me a mente.
Ontem, andava a arrumar fotos e deparei-me com a foto de uma colega cuja filha tomava medicação para a hiperactividade e de repente “fiz uma ligação”.
A minha colega estava separada do marido e trabalhava muitas horas o que implicava deslocar-se sempre de carro, até para levar a pequena à escola. E recordo-me de ela dizer que estava sempre tão cansada à noite que passavam o tempo a ver televisão. Na altura, quando ela comentou dos problemas da menina na escola eu não tinha informação suficiente para dizer nada, por isso quando ela comentou que a pequena ia começar a tomar medicação, achei “normal” apesar de preocupante.
Hoje, acho que ela fez mal em ter aceitado dar a medicação à pequena e depois desta situação com o meu filho, tenho a certeza que foi um erro da parte dela.
O meu filho gasta logo de manhã parte da energia antes de chegar à escola durante a caminhada. E se nos cruzarmos com um amiguinho, entre corridas e pulos, o gasto de energia aumenta muito. Por isso quando chega à aula, sossega. Os recreios servem como “balanças de energia”, porque permitem que comam algo para repor a atenção à aula (atenção que a fome retira), ao mesmo tempo que permitem que gastem energia suficiente para que se mantenham sossegados.
O meu filho vê televisão, talvez mais do que aquela de que eu gostaria ou ache que é saudável, mas também brinca muito no jardim principalmente com o vizinho e sempre que o tempo permite vamos para os parques. E tem uma rotina de sono praticamente sagrada.
Naquela semana que esteve condicionado pelo ferimento no joelho, os seus gastos de energia foram afectados e a imaturidade na gestão do desconforto gerado reflectiu-se em “indisciplina” na aula. A professora foi muito profissional e soube gerir a situação sem entrar em “histerias” e eu agradeço a minha sorte por isso.
E estás a contar-nos isso porquê?, perguntam vocês.
Conhecendo alguns casos como o da minha colega e tendo verificado que o meu filho alterou o comportamento com o simples facto de ter ficado mais parado, eu concluo que muitos casos de “hiperactividade” são na realidade “rotinas familiares e escolares erradas” e isso não se cura com medicações e sim com correcções.
Verificamos que a maioria das crianças chega à escola em carros ou autocarros. A maioria das deslocações é feita em algum tipo de veículo motorizado. Não o posso afirmar mas, comentasse que a maioria das crianças passam o tempo sentadas ou deitadas junto de um ecrã. Se olharmos ao tempo diário de aulas, onde passam o tempo sentadas e quietas, e olharmos os parques e as ruas vazias de actividade infantil, podemos concluir que os comentários não devem andar muito errados.
Na mesma altura em que a actividade física infantil diminuiu, aumentaram as notícias e os casos conhecidos de “hiperactivos” medicados. As empresas farmacêuticas devem estar a pular de alegria e com tanto dinheiro a entrar deve existir pouca vontade de investigar o assunto mas fica o apelo a alguma alma bondosa e preocupada que o futuro não seja carregado de “zombies”:
- Por favor, verifiquem de forma séria a relação entre a rotina diária da maioria das famílias actuais e as queixas de mau comportamento.
E antes de “medicar” os pais pensem em começar a fazer da ida à escola uma bela caminhada. Eu percebi com essas caminhadas, que voltava a pertencer à sociedade da vila onde vivo e agora acabo de concluir que é mais do isso, é também uma forma saudável de gerir o comportamento do meu filho. E até de me manter activa e saudável, longe de depressões.
Fica a partilha, com esperança que inspire alguém a seguir um caminho mais saudável do que a aparente facilidade do “medicar”!