VOZES
Levo anos observando. Tento perceber as diferentes formas como cada sector social se desenvolve e principalmente como é que se conectam entre si. E estou cada vez mais convencida que a solução para melhorarmos este mundo, não é politica e sim educacional.
Estou convencida que vai ter mais impacto as nossas pequenas acções do dia a dia, do que as grandes tomadas de decisão dos governos. Estou convencida que a educação é o motor dessa mudança para melhor.
Estive a ver uma entrevista antiga da actriz brasileira Dercy Gonçalves que foi casada com um jornalista onde ela dizia « que apenas via tiros nos jornais, na vida real nunca se cruzou com nenhum » e fiquei a pensar nisso. A verdade, é que a maioria das pessoas que me rodeiam apenas querem viver a sua vida em paz, mas se lermos um jornal é tudo um inferno.
Porquê ? Manipular pelo medo ?
Concentremo-nos nas questões de saùde, onde todos os dias, sai noticias de que se comer isto vai prevenir o cancro daquilo, se beber o outro vai prevenir a doença tal e etc... Vejo gente tão confundida que até tem medo de comer, pensando que assim està a ganhar anos de vida mas, depois tem dores aqui e ali o tempo todo. E porquê ? No meu ponto de vista, porque se juntam as falhas alimentares de andarem a tentar seguir dietas sem sentido ao stress de estar a ingerir o incorrecto e, o caldo fez-se. Temos consumidor de remédios garantido no pedaço, para salvar a economia !!!!
E outro caso, para animais sociais que somos não é um pouco ridiculo que a maioria nem sequer conheça o nome do vizinho da porta em frente ? Porque é que isso acontece ? Na minha teoria, por medo. Medo a que nos calhe um desses tipos dos jornais.
Vivemos com medo, porque as vozes que escutamos estão sempre a dizer-nos para ter medo.
Os paradigmas da educação têm de mudar, mas como ?
Reparei que os mais jovens e não tão jovens, ouvem mais o que lhes diz um artista, principalmente se é um dos seus favoritos, do que os politicos que governam a nação (para não falar que a partir de certa idade a voz dos pais fica silenciada até novas ordens). Então, creio que a comunidade artìstica tem a responsabilidade de enviar as mensagens correctas. Entendo que na maioria dos casos é um negòcio, é a sua forma de sobreviver, mas existem sempre formas de casar essa necessidade com a responsabilidade de enviar as mensagens correctas. Sejam criativos.
Se estas mensagens de massas, estiverem bem formuladas e bem emitidas, junto com as nossas pequenas acções diàrias, nòs podemos calar as vozes que nos assustam e fazer melhor o nosso caminho.
Se pensarmos bem, apesar do apelo ao consumo do abacate, na verdade quem decide comprar somos nòs. E tenho andado a verificar artigos sobre as dietas das pessoas que viveram mais de 90 anos e percebi que a maioria são dietas simples com os alimentos regionais. Se calhar andamos a complicar-nos a vida, e a sujar o meio-ambiente com alimentos que são transportados por camiões, aviões e barcos, sem necessidade nenhuma.
O mesmo se aplica ao constante apelo da imagem perfeita. Visitem um hospital, falem com as pessoas que fizeram dietas, cirurgias e andaram a tomar medicações loucas e vão perceber que de auto-estima quase não sobrou nada. Parece que cada quilo perdido lhe arrancou parte do seu bem-estar. Por isso, antes de embarcarem em loucuras, procurem ouvir a vossa voz e tentem encontrar um equilìbrio.
Eduardo Galeano, escritor uruguaio, dizia que poupou muito dinheiro em terapias andando, caminhando, ouvindo-se a si mesmo. Conheço gente que prefere as técnicas de meditação. Eu adoro conduzir sozinha com mùsica e perder-me em pensamentos, mas também adoro caminhar. Cada um deve encontrar o seu método, mas o importante é que encontre uma forma de se ouvir um bocadinho, todos os dias. Assim, se desenvolve uma visão mais crìtica e não se cai em qualquer conto, o que vai melhorar as nossas tomadas de decisões. E essas pequenas mudanças vão-nos levar a um mundo melhor.
Não nos podemos esquecer, que uma nação não se faz com 50 pessoas sentadas num hemìciclo. Uma nação, constròi-se com a contribuição dos milhões que todos os dias saem das suas casas a produzir algo para o colectivo. E quanto melhor for esse colectivo, melhor amparados estaremos. Somos uma cadeia, façamos a nossa parte.
Ouçamos mais a nossa voz e decidamos ouvir as vozes que aportam, silenciando pouco a pouco as que nos tentam manipular !