Amazónia e a forma como nos preocupamos
Não quero discutir culpados da destruição da amazónia, porque vejo que essa discussão só serve para ir adiando soluções e tirar proveito político. E creio que o mundo já nos deu exemplos demais de onde isso vai parar.
O que me chama a atenção é a forma diferente, como a humanidade deu atenção aos dois assuntos.
O incêndio de notre dame ainda não tinha passado um par de horas e já corria mundo. Normal, porque se trata de um local super habitado e constantemente visitado por gente com telemóveis em punho. Nada de mais.
Mas em contrapartida e apesar dos relatórios do INPE e das baboseiras ditas em cadeia nacional pelo presidente, a amazónia teve de estar semanas a arder para que as pessoas notassem que algo vai mal. Nem o facto de esta ser monitorada por uma das organizações mais ricas do mundo, a NASA, serviu para nos prender a atenção em tempo útil. Só quando os fumos chegaram a uma cidade importante do Brasil, é que o mundo acordou. (Imagem ao lado disponível no google)
Se por um lado, se queima arquivo histórico, por outro se queima um importante sistema florestal que tem um papel importante na humidificação do ar e na criação de chuvas essenciais à agricultura e por consequência à nossa sobrevivência. Quando se queima floresta, também se queimam plantas medicinais e muitos animais que contribuem para o equilíbrio das pragas. Queimar floresta, tanto na amazónia como em Portugal, é colocar uma série de coisas que contribuem à qualidade da nossa existência em causa, mesmo que não o notemos no imediato. Apesar de nos queixarmos constantemente de que o tempo anda virado, que morremos de calor, que não há medicamentos nas farmácias e que a comida que comemos é cada vez mais plástica.
Pensando nisto, creio que devemos repensar a forma como pomos a nossa atenção nas coisas. Deveríamos repensar a nossa escala de prioridades.
Um dia, quando o mundo se tornar um lugar claramente hostil e sem recursos para a nossa sobrevivência, não vamos puder dizer que a culpa foi do azar ou que a culpa é dos outros que nunca dão a cara. Teremos que assumir que a culpa foi nossa. Totalmente nossa, porque as nossas prioridades estavam focadas em outras coisas, porque nos montamos em ondas de solidariedade por moda, porque não temos consciência do que estamos a perder e queremos continuar assim.
A solidariedade de supermercado, onde damos um pacote de leite sem saber se ele vai ser entregue a alguém que necessite ou voltar para a prateleira para ser (re)vendido, só para termos a sensação que já contribuímos para salvar o mundo. Por isso também, já pudemos colocar no lixo 3 kg de comida, porque compramos para a mesa ficar bonita e não calculamos o que realmente ia ser consumido, mesmo que isso alimenta-se várias pessoas. Mas, já temos a nossa consciência aliviada, pelo boas pessoas que somos ao doar um pacote de leite sem olharmos sequer na cara do colaborador que está a cargo da recolha. (Sim, posso dar fé que assim se passa muitas vezes, infelizmente.)
Os incêndios irão passar e voltar a repetir-se, as politícas manter-se-ão e o património natural será delapidado, mas nós continuaremos a preocupar-nos só quando virar moda nas redes, sem nos preocuparmos porque é que algumas notícias chegam e viralizam e outras não. Continuaremos sem ver os limites destas caixas virtuais que nos traçaram. E principalmente, continuaremos a consumir sem consciência, abrindo mão do único poder que ainda nos pertence, aquele de decidir o que comprar e de que forma. E o mais perigoso, continuaremos à espera que seja o outro a fazer alguma coisa, sem tentar perceber que papel jogamos nesta enorme equação.
Continuaremos a ir ao macdonaldo e amigas, sem nos preocuparmos com o desmatamento que é preciso continuar a fazer para produzir aqueles hamburguers que apesar de sabermos que não são da melhor qualidade nutricional, justificamos pelo bem que faz à nossa preguiça (eu culpada em via de se redimir).
Os produtos de couro que compramos sem nenhuma informação de proveniência. E agora, o diz-que-disse-que-afinal-não-disse da associação brasileira de produtores de couro, que pôs em evidência a tentativa de manipular a opinião pública global e que devia servir de alerta, mas não acredito que vá ocorrer.
Os medicamentos com nomes de produtos tropicais, etc, etc e etc...
Decidir comprar é uma decisão de cada um. Pensar se precisa realmente de fazer esse consumo, também. E essa é a nossa única forma de poder contra todas as tentativas de manipulação económica ou politica que temos.
Vale a pena repensar, não?
Um aparte, muito aparte: pensando em medicamentos, recordei o preço absurdo que alguns chegam a alcançar. Segundo corre por aí, a explicação deve-se ao preço que podem atingir as pesquisas e os testes antes da comercialização. Pode ser parte da explicação, mas há uma coisita que me faz ruído. Uma boa parte das pesquisas é feita nas universidades e hospitais associados. Estes organismos são sustentados por dinheiros públicos e propinas estudantis. Os testes são feitos em pessoas doentes e não doentes, que aceitam participar (na maior parte dos países) em troca de nada. Onde é que entra o investimento destas farmacêuticas, que justifique estes absurdos nos custos dos medicamentos ?
Se alguém me pode esclarecer, eu agradeço o feedback, porque necessito entender e não colocar a culpa desses absurdos, na falta de transparência que as políticas permitem a este sector de negócio. Por favor, estejam à vontade para colocar por aqui as vossas respostas. Estou muito curiosa !