Engraçado, com muito pouca graça...

Os patrões com espírito de empregado, querem as benesses de estar numa posição de liderança mas, no dia-a-dia, comportam-se como mais um empregado. Não me explico?

Vamos tentar assim, normalmente um empregado é contratado para cumprir uma função específica e deve concentrar-se nela, para ser o melhor possível na sua execução. Por exemplo, quando compramos um carro, não esperamos que ele nos lave a roupa. Até poderia mas, o seu potencial como carro não seria o mesmo ao dividir a performance entre funções tão diferentes.

Mas, quando somos o dono da casa onde estão o carro e a máquina de lavar, temos de nos dedicar a garantir que cada um cumpra a sua função. Ou seja, a nossa função como dono da casa é fazer lavar e também fazer o carro transportar-nos. 

Uma parte desta classe que se passeia como donos da casa, só sabem conduzir carros e esperam que a máquina de lavar funcione sozinha, porque afinal investiu nela. Quando o departamento da máquina avaria, ele espera que o dinheiro investido a repare, sem ter de intervir, sem tentar entender o que originou o problema, sem se chatear com o que não entende. Muitas das vezes a máquina de lavar avaria, não por falta de atenção mas, porque ele pensa que como a pagou a pode mandar lavar tudo e mais alguma coisa, sem nenhum critério. Então o motor de 8 kg diariamente carregado com peças de 20 kg estraga-se, dando um prejuízo enorme. Prejuízo que poderia ter sido evitado com a leitura de um manual de instruções e decisões tomadas em cima da real capacidade da máquina. Contudo, achando que o dinheiro opera o milagre sozinho, sem ter de se preparar e conhecer os limites da peça, as decisões são tomadas com a falsa e retrógrada premissa “eu pago e tu executas”.

Os patrões são os donos da casa, deveriam estar atentos a todas as áreas, fazendo-as funcionar. Ele não executa, mas cuida para que seja executado. Por isso, as grandes empresas gastam tanto tempo em reuniões. Na verdade, não é tempo perdido se bem organizadas, porque assim fica-se a conhecer o estado de cada departamento da cadeia de eventos que dão forma ao negócio. Isso não é o suficiente, é preciso ir aos locais onde as coisas acontecem mas, as reuniões são melhor que nada. Porém, há dirigentes que alimentam uma única fonte de informação sobre o funcionamento da sua empresa e é a fofoca. Triste mas, real.

Sem se aperceberem comportam-se como mais um empregado especializado apenas numa área, sem visão global sobre as actividades necessárias a desenvolver para que o seu negócio possa funcionar e progredir.

Se não fosse tão comum esta incapacidade de liderança, até era engraçado. Assim tem muito pouca graça, porque todos pagamos. Os que trabalham directamente nestas condições, pelo stress que gera tentar fazer alguma coisa com constantes golpes na iniciativa ou quando se deixa de ligar aos resultados e se passa a executar como um escravo, vendo as expectativas de melhorar e crescer frustradas. Para os que pagam impostos também lhes chega a factura, quando os vêem ser absorvidos em planos de salvamento de empresas à beira da falência, sem que nenhum factor externo imprevisível tenha contribuído para isso. Ou, quando necessita do sistema de saúde e ele está sobrecarregado de gente, com doenças directamente ligadas ao stress muitas vezes evitável com um melhor planeamento. Podia ser engraçado mas, não é.