Sentenciar...
A rede mudou e fui cuscar as alterações. Dando uma volta, pelos dados que o Facebook foi deduzindo sobre mim, eu não me identifiquei. Eu não me reconheci no meu próprio perfil. Interessante!
Há informações que eu nunca publiquei e nem sequer correspondem à verdade, mas que foram introduzidas no meu perfil e farão os outros fazer julgamentos sobre quem eu sou. Impressionante, como a tecnologia imita a vida real.
O problema é, que eu sou um ser em construção, como todos os outros. Por isso, o que sou agora, não é o mesmo que fui ontem, eu aprendi. É muito provável que mude daqui a 5 minutos, porque continuarei a aprender.
No meu caso particular, isto é só um acessório ao qual dou a importância que me apetecer. Mas, o que é que acontece aos que são julgados por características socialmente rejeitadas e que são alheias à sua vontade ou poder de gestão?
Eu tenho todas as características dos privilegiados, menos uma, sou mulher. Nos últimos anos, tocou-me experimentar essa particularidade de uma forma diferente, porque entrei num mercado de trabalho extremamente machista. Tem sido uma sala de aula. Podia vitimizar-me, ou sentir-me como um director de cinema na selva a estudar o comportamento animal. Escolhi a segunda.
É preciso recalcar, que eu tenho todos os outros privilégios que me escudam. Agora, o que seria se eu não tivesse a cor de pele "certa", a nacionalidade "certa", a altura "certa", etc...?
Devíamos reflectir sobre a forma como obtemos informação do mundo, devíamos reflectir sobre a informação herdada dos nossos antepassados que já não se adequa, devíamos reflectir nos julgamentos que fazemos assentes em comentários que não têm validade real. Devíamos repensar a forma como julgamos o outro e a sua realidade, porque provavelmente estamos todos errados.
Eu sei que custa admitir que estamos errados, porém é vital que o façamos, porque só assim podemos estar mais seguros. Só assim poderemos conhecer a realidade daqueles que nos rodeiam: deixando de os julgar e passando a conhecê-los.
Em todas as nações há pessoas na prisão, se umas fossem superiores às outras, algumas nações não precisariam de prisões e muito menos de privilégios para determinados grupos. Ao darmos privilégios para um preso com estudos, por exemplo, estamos a assumir que esse tipo de pessoa também PODE SER um criminoso. Até a castigar, conseguimos ser injustos.
Claramente, precisamos de rever a varinha de julgamento que carregamos e talvez aquele exercício simples dê resultado, se o usarmos mais vezes, que é a pergunta "e se fosse eu, naquela situação?"