“– Olá, como estás?” (1)
Essa simples pergunta do título, feita quase sempre em piloto automático, obtém a mesma resposta a maioria das vezes:
“– Bem. E tu?”
Estamos realmente bem, quando respondemos isso? Estamos realmente interessados, quando fazemos essa pergunta?
O que dizemos uns aos outros, na grande maioria das vezes, está padronizado, inclusive a bendita pergunta sobre o estado de ânimo do outro. Eu já fiz a experiência de responder “não estou bem” e quase sempre obtive uma cara de pânico, do meu interlocutor. As pessoas, na sua grande maioria, não estão preparadas para lidar com o mau-estar alheio. Façam a experiência e se quiserem, partilhem aqui comigo.
Talvez exista uma falha educacional nesse sentido. Somos educados para buscar a felicidade, são poucos os educadores que apostam numa educação que ajude a criança a compreender, também, a sua própria tristeza. Quando uma criança chora, a resposta é deixa-la sozinha a lidar com esses sentimentos ou dizer frases de guião, como por exemplo a irónica “logo não fazes xixi na cama”, a indiferente “isso já te passa” ou pior “toma lá isto e pára de chorar”. Para não falar dos casos que acham que uma bofetada é a resposta (não é, deixo já aqui esclarecido). Este tipo de resposta, por parte dos educadores, à infelicidade dos mais pequenos, deixa uma mensagem subliminar poderosa: "se ficares triste, ficarás sozinho". Há uma desvalorização desse tipo de sentimentos por parte do adulto e isso depois transforma-se num padrão, que a criança repetirá na sua relação com o outro.
Raramente se vê os pais abraçarem os filhos e conversar sobre a razão daquelas lágrimas. Eu vejo muito pouco, mas felizmente parece um comportamento cada vez mais frequente. Isso dá-me um pouco de esperança nas mudanças futuras, porque falar sobre isso fará compreender esses mecanismos internos. É mais fácil aceitarmos o que compreendemos, tanto em nós, como no outro.
Não ignorem a tristeza, falem sobre ela. Não precisam ser técnicos, é só ter um par de ouvidos e algum interesse no outro. De preferência, sem julgamentos. Eu sei que é difícil, porque estamos programados para buscar nos nossos arquivos, as ideias pré concebidas que carregamos, para tentar desvendar os mistérios da vida, contudo nestes casos o melhor é preparar-se para ser surpreendido.
#livredemascaras