Teoria da Impossibilidade de ganhar…
Um pai de família, comum e corrente, foi entrevistado. A conversa correu mais ou menos assim:
Jornalista: A que dedica a sua vida?
Pai de família: A trabalhar.
J.: Sempre a trabalhar?
P. de f.: A maior parte do tempo. Já reparou neste carro que tenho estacionado na minha garagem desta fantástica casa?
J.: Sim, são muito bonitos. Está a querer dizer que dedica o seu trabalho a esse carro e a essa casa?
P. de f.: Para que é que uma pessoa se mata a trabalhar? Ao menos que tenhamos as coisas, para que a família seja mais feliz.
J.: Quer dizer que você e a sua família passam muito tempo a usufruir do fruto do vosso trabalho, que é esta casa e esse carro?
P. de f.: “Muito tempo?” (Expressão de confusão). Estas coisas são caras e para as ter é preciso trabalhar muito. Passamos a semana toda a trabalhar. Às vezes até o sábado, porque a vida está cara e é preciso comer, pagar a escola dos miúdos, os impostos, os transportes, a saúde, o telemóvel, etc… Uma imensidão de despesas. Acontece só nos cruzarmos ao domingo quando os miúdos vêm à cozinha buscar o almoço para comer no quarto enquanto jogam e a mulher ajuda-os a prepará-lo. Mas tiramos umas duas semaninhas de férias todos os anos, apesar de que os miúdos agora já não queiram vir connosco. Cresceram, sabe?
J.: Acompanhou o crescimento deles?
P. de f.: Claro.
J.: Isso quer dizer que aumentou o ritmo de trabalho agora, porque antes dedicava mais tempo à família?
P. de f.: “Mais tempo?” (volta o ar confuso).O tempo não paga contas. Eu acompanhei o seu crescimento. Quem é que acha que pagou as fraldas, a creche, e as mil coisas que eles precisam para crescer? Fui eu. Nunca lhes deixei faltar nada.
J.: Não acha que lhes faltou com o seu tempo?
P. de f.: Oh! (Expressão de enfadado). Migo, já lhe disse que não lhes deixei faltar nada. Olhe a casa! Olhe este carro! Acha que lhes deixei faltar alguma coisa? Quando me viam, eles pediam e eu assim que podia dava-lhes.
J.: Partilham ocasiões especiais? Falo do dia do pai, festas de aniversário, jantares e outros encontros do género?
P. de f.: Normalmente, nessas ocasiões deixam-me ficar um presente na mesa da sala. Eu também não os desiludo, pergunto sempre à minha mulher o que é que eles querem para a ocasião e dou-lhe dinheiro para ela o comprar. Não lhes falta nada!
J.: Qual foi o presente que lhes deu que eles mais gostaram?
P. de f.: Huuummm! Não recordo, de momento. Estão sempre a pedir coisas novas.(Expressão divertida).
J.: E jantares especiais, partilham algum em particular?
P. de f.: O Natal. Reunimos a família toda na casa dos meus sogros, que é maior e cabemos todos. É uma festa! Esperamos o ano todo por esse dia.
J.: Abdicaria de alguma das coisas que possui para ganhar tempo e dedicá-lo a usufruir junto com os seus familiares?
O pai de família coloca um novamente um ar confuso.
P. de f.: Pode repetir a pergunta?
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Einstein explicou-nos que existe uma relação espaço-tempo onde o tempo corre de formas diferentes, dependendo da forma como nos deslocamos no espaço.
Acho que essa teoria se pode aplicar à relação vida-dinheiro, neste caso parece que quanto mais tempo se gasta a acumular o dito dinheiro, menos tempo se consegue para viver/experimentar/usufruir.
Como diz a minha amiga Carla:
“Não tenho. EU SOU.”
Foto do blog "Âncora do Velho Barco".