Dia do trabalhador ... 2018
Foi anteontem e estive a reflectir no que é isso do Dia do Trabalhador.
O meu filho que está a fazer a escola primária trouxe da escola dois textos para ler. Um era sobre o “muguet”, uma flor que em França simboliza a “felicidade” e é trocada entre as pessoas nesta altura do ano e o outro texto era sobre o Dia do Trabalhador.
Digo-vos já: fiquei chocada.
Porquê?
Estamos num mundo de gente que trabalha, estamos num mundo onde ninguém, e reforço a palavra ninguém, é auto-suficiente e por isso a troca de serviços/trabalhos é uma necessidade básica, estamos num mundo onde os direitos e deveres no que concerne ao trabalho são desconhecidos da maioria quando estão definidos por leis e em boa parte dos casos nem sequer existem leis, estamos num mundo onde a estrutura hierárquica tende a cair em abusos mais ou menos graves tendo os de cima a fazer a vida dos de baixo um inferno, estamos num mundo que tem muito que fazer para que seja um pouco mais justo no que toca aos ambientes de trabalho. E num mundo assim o que é que ensinam às crianças?
Que o dia do trabalhador “celebra quem trabalha e sendo um dia feriado permite um fim de semana prolongado nesta altura em que o tempo começa a ser agradável”.
Apetece perguntar: quuuuêêêêêê…?
A escola que devia, por exemplo, explicar que o Dia do Trabalhador é uma excelente oportunidade para que todos saibam a importância do trabalho e que este se encontra protegido por direitos e deveres previstos na lei, de forma a que o mercado de trabalho destes jovens não repita a selva que é nos dias que correm, limita-se a minimizar o assunto a uns belos dias de descanso. Ok! O descanso é um direito fundamental de qualquer trabalhador, mas não minimizem, não tirem importância, não tentem manipular o fundamento deste Dia que é celebrado em todo o mundo.
É de vital importância, continuar a falar do Dia do Trabalhador, enquanto houver escravidão no mundo, enquanto existir falsos poderes assentes na exploração do esforço alheio, enquanto as leis apesarem de existirem forem incompletas, defeituosas e ineficazes.
E isso leva-me a uma segunda reflexão sobre o Dia do Trabalhador: as manifestações.
As manifestações são uma boa forma de unir os grupos de interessados e que não são convidados para negociar leis à mesa de um restaurante 5'*s e dar-lhes voz . E por serem tão importantes a dar voz aos que normalmente não a têm, é importantíssimo que não se transformem em actos de violência gratuita. Sempre que uma manifestação se transforma em algo violento, perde o seu sentido.
Uma manifestação por leis do trabalho mais eficazes, se for contaminada com actos de violência vai perder peso, porque a imprensa vai falar da violência e não dos motivos reais da manifestação. E isso não serve aos que lutam e sim aos que querem manter tudo na mesma. Aos que corajosamente organizam estes actos e aos que ainda mais corajosamente se lhes unem, peço que não caiam nesse erro, por favor.
Sabemos que a maioria destes actos de violência são produzidos por pequenos grupos, talvez contratados para esse mesmo fim, e que se introduzem no meio das multidões para provocar a desordem e o caos.
Aos manifestantes peço que parem, virem estátuas se for preciso mas não se unam aos actos de violência, porque unir-se a eles vai-lhes dar força e perde-se o objectivo da manifestação.
E as autoridades que são avisadas que estes vão ocorrer com antecedência, peço que actuem por prevenção. Rastreiem as zonas mil vezes se for preciso, hoje dispomos de equipamentos que podem verificar a existência de objectos até mesmo por baixo da roupa (vejam os aeroportos), podem ver os sinais de telemóvel dos arruaceiros do costume e localizá-los com alguma exactidão, etc… Por favor actuem correctamente, porque uma coisa são actos aleatórios, outra coisa é uma manifestação com hora e percurso marcados. É complicado? Sim. Mas é impossível? Não.
Em vez de se investir em policia de choque para responder aos ataques, é necessário fazer investimentos em prevenir ataques. Se se podem proteger Presidentes e Papas no meio de multidões, também se pode fazer um pouquinho mais para proteger multidões destes batoteiros inconscientes que espalham o caos e a desordem.
Sou alguém que acredita que a solução de qualquer problema é multidisciplinar, o que quero dizer é que para um problema ficar realmente resolvido deve ser analisado de diferentes prismas e devem-se tomar medidas preventivas em todos os lados que afectem directamente ou indirectamente a situação.
Neste caso, a educação é fundamental, a actuação de quem participa é crucial e a prevenção por parte das autoridades pode fazer a diferença. E num plano mais distante, mas fundamental, a correcta aplicação das leis laborais e a sua correcta fiscalização é vital. O papel da justiça deve ser impecável em caso de prevaricação.
Estou inclinada a acreditar que se a justiça e a fiscalização fizerem o seu papel correctamente, com um empurrãozinho da educação, num par de décadas as manifestações serão só e apenas grandes festas de fim de semana prolongado. Mas até lá não brinquem com questões tão importantes para tanta gente.