Falências duvidosas, porque as permitem?
Aerdna cresceu com a história do senhor que era muito conhecido na terra, que tinha dado falência e teve de fugir para o estrangeiro. A família tinha sido perseguida e a esposa não podendo fugir por causa dos 5 filhos ainda tinha ido passar uma noite ao « xilindrò ».
Ficaram funcionários sem os seus salários, as suas famílias sem o sustento e o mesmo se passou com os credores.
Mas o que foi um drama no início, depois de vários milhares nos bolsos de advogados (com o dinheiro que se conseguiu desviar antes do colapso) o senhor ficou isento de dívidas apesar de não ter pago nenhuma.
Hoje com a notícia da falência da grande empresa de móveis e a suspeita da manobra da principal accionista para se livrar das dívidas e continuar com a sua vidinha, sem dó nem piedade por aqueles que cooperaram para que a empresa tivesse sido o que foi, Aerdna pensa:
O processo em vez de ter complicado a vida aos maus gestores (que se põe a crescer sem saber como sustentar depois), foi simplificado. Pelo menos està a ser investigado.
Os fornecedores para terem alguma fonte de rendimento vêem-se na obrigação de fazer empréstimos de mercadoria a 30, 60 ou 90 dias. E isto quando recebem e não ficam sem dinheiro e mercadoria.
Os trabalhadores aguentam jornadas de trabalho para além do estipulado na lei e é aconselhado à saúde. Muitas vezes sem comer, sem ir à casa de banho e sem folga (com sacrificio familiar). Sim porque isto acontece.
Não há inspecção. A que existe vem com aviso prévio. E quando algum inspector resolve dar alguma credibilidade à sua arte e aparece de surpresa as empresas inventam formas de entregar a documentação mais tarde para ter tempo de verificar e quiçá corrigir alguma anomalia.
E quando os que “mandam” (com o crédito bancário e imagem estudada), resolvem vir com os gritos e os histerismos colocando nos trabalhadores a culpa do mau funcionamento, quando são eles que deram a ordem, os trabalhadores calam e seguem. Muitos destes trabalhadores ocupam o seu posto como se da sua própria empresa se tratasse, mas isso só interessa até ter que lhe dar contas pela má gestão. A mania que uns são doutores e outros não.
No fim quando tudo dá errado, os trabalhadores só podem recorrer à justiça. A mesma justiça que criou mecanismos para que os accionistas, gestores e supostos doutores de empresas possam alienar o dinheiro e depois abram falência. Existem os offshores, a transferência de capital para outros elementos da família, abertura dos mesmos negócios com outros nomes e por aí. Existem manobras legais para quase todos os gostos.
Aerdna não entende, se todos sabemos desses mecanismos e com tanto doutorado não existe alguém que crie um mecanismo para que isto não seja possível.
Para que as empresas não cresçam mais do que é possível, sei lá a ideia de testes de stress financeiro às empresas com mais de 100 trabalhadores à semelhança do que acontece com os bancos não parece estupidez. O estado criou a ASAE com tanta dedicação e até deu alguns resultados (se não acreditam visitem uma mercado de rua na França e tentem não ficar escandalizados), também podem criar um organismo deste género para prever a possibilidade de falência. Desta forma podem-se evitar falências (porque o ser humano não é muito bom a admitir erros), ou pelo menos garantir o menor número de pessoas prejudicadas possível.
É só uma ideia porque entre a história do senhor da terra e a actual falência da empresa de móveis, Aerdna acredita que se evoluiu de forma errada. É necessário parar com isso porque além das pessoas prejudicadas directamente, nós também acabamos prejudicados porque pagamos impostos: os que estes senhores não vão pagar, os que vão pagar os subsídios de desemprego e…
E não existe economia que possa crescer saudàvel enquanto se permitam estes mecanismos de alienação de riqueza por alguns em prejuizo de todos. Parem de nos distrair com disparates e ponham-se a trabalhar no que interessa.
A vida não se divide em áreas, ela é multidisciplinar. Temos de começar a olhar para a bola toda e não só para o lado que está virado para nós a encadear.