O génio de um autor de Guiões para Telenovelas! Parte 1/2
Porque me agradam tanto os guiões do Sr. Fernando Gaitàn?
Creio que é, porque as suas histórias parecem uma cusquice contada entre vizinhos. O autor já admitiu que lhe “encanta o chisme” (adora a cusquice) e emprega este gosto de uma forma artística emprestando veracidade às suas histórias.
As histórias são tão parecidas com a realidade, que é como se nos transportassem para dentro de si mesmas. Os telespectadores são mais um personagem.
As personagens que cria não são “planas”. Não existem “bons” e “maus”, apenas seres humanos com as suas características a lidar com as suas circunstâncias. A história é a relação que essas personagens criam entre si e não um relato de acontecimentos em que as personagens parecem figurantes. As personagens são o centro das suas histórias e o que perdura na memória.
Os espaços são como um personagem mais e não apenas uma circunstância cénica. Os cenários ganham vida ao dar sentido à história. As personagens criam relações com os espaços. É dado ao telespectador a oportunidade de conhecer o espaço, o funcionamento e a forma como influencia o comportamento das personagens.
As suas histórias centram-se na história principal criando enredos acessório apenas para completar e dar sentido ao principal. Poucas personagens, portanto.
A cereja no cimo do bolo é a capacidade de dosear drama e humor. No mesmo capítulo começamos a chorar barba e ranho e acabamos a rir às gargalhadas, sem que nada perca sentido.
Mas para falarmos do autor temos de conhecer a obra:
- É autor de três dos maiores êxitos da Tv Colombiana e detém a autoria da novela que entrou para o Guiness Book, por ser a mais assistida de sempre: “Yo Soy Betty, La Fea”, transmitida no ano de 1999 na Colômbia e rapidamente trespassaram fronteiras;
- Em Portugal a versão dessa obra teve o nome “Tudo por Amor” com Sofia Duarte Silva em 2002;
- As outras duas obras destacadas foram: “Café com Aroma de Mujer” em 1994 e “Hasta que la plata nos separe” em parceria com outros dois guionistas no ano de 2006;
- Também conheceu o fracasso. Nas suas próprias palavras a forma como o encarou:
“Carolina Barrantes” fue con la que peor me fue, marcó como 0,3 puntos de rating. Los errores me enseñaron. Aprendí a tener cuidado con las historias sombrías, a entender que no soy bueno para todo. Por ejemplo, aunque tengo hijas y nietos, no sé manejar niños. Aprendí que debo cuidar mucho las historias de amor. Ahora soy más exigente, trato de que la gente se enamore de ellas.”.
A sua obra não é extensa, porque cuida muito as suas histórias. E a verdade é que vale a pena, porque ficam na memória de quem as assiste.
“Café con Aroma de Mujer” de 1994:
Protagonizada pela actriz Margarita Rosa de Francisco e o brasileiro Guy Ecker com direcção de Pepe Sànchez, a história dá-nos a conhecer o mundo do café na Colômbia e o seu comércio no mundo. Apresenta-nos uma Colômbia diferente da que aparece no cinema e nas notícias que nos chegam. Vemos uma Colômbia com gente trabalhadora e sonhadora, longe dos monstros da droga a que nos resumiram esse país.
Conta-nos a história de “Gaviota” uma “recolectora de café” que percorre junto com a mãe as fazendas cafeteiras para trabalhar nas colheitas.
No início da história elas estão a regressar à fazenda Casablanca para a colheita, quando o dono morre e a família deste se junta para as honras fúnebres. É durante estes acontecimentos que conhece a Sebastiàn Vallejo e se apaixonam. Sendo uma história entre uma moça pobre e um rapaz rico, começam as peripécias. Mas o desencontro não se centra no fato de as famílias se oporem e sim na inexperiência de vida dos dois e na indecisão dele.
Nós acompanhamos as lições que a vida lhes vai dando ao mesmo tempo que aprendem a entrar no mundo da empresa “Cafexport”.
A história permite ao telespectador aprender junto com os personagens como se desenrola o comércio do café no mundo. Como se relacionam as empresas de exportação com as fazendas produtoras. Acompanhamos as colheitas, o transporte, a lavagem, a torra do café e a sua influência no gosto, os provadores, a moagem, a distribuição. O jogo nas bolsas mundiais para baixar e aumentar o preço do café no mercado. Os tipos de café produzidos no mundo. Tudo isto nos é dado a conhecer ao mesmo tempo que assistimos aos encontros e desencontros das personagens. A química entre os protagonistas é fantástica.
E existem cenas que ficam na memória, por exemplo quando Gaviota finalmente compra um carro e o abençoa com a oração (capìtulo 23):
“Proteja-o de qualquer embargo se me atrasar as prestações,
De um embate porque as seguradoras nem sempre respondem,
Dos ladrões que os tiram do país e os vendem no Equador ou os desmancham e os vendem por partes,
Dos maus mecânicos,
Dos parques onde os riscam e as pessoas não assumem,
Dos semáforos vermelhos que as pessoas não respeitam,
E por favor, proteja-o de mim que só agora aprendi a conduzir.
Obrigada e Ámen.”
“Yo Soy Betty, La Fea” de 1999. O grande êxito:
(Continua) …