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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Os livros ajudaram a desenhar a minha visão do mundo!

Imagem no texto Domínio Público.

books.jpgA minha mãe, em casa andava sempre com o livro na mão. No quarto antes de dormir, lia. Assim que acordava, tomava o pequeno-almoço acompanhada pelo livro, aproveitando a calmaria ainda instalada. Na sala enquanto eu me entretinha com os legos, ela lia. Na casa de banho, ela lia. No pátio, ela lia.

 

Lembro-me das visitas à Teresinha, onde as duas trocavam livros e opiniões (os livros podem gerar as mais diversas interpretações) enquanto eu fazia os trabalhos de casa. A Teresinha tinha uma minibiblioteca em casa. Naquele tempo, década de 80, era raro porque os livros eram caros. A biblioteca na aldeia era uma carrinha que passava de 15 em 15 dias.

 

O meu pai, não era leitor. Limitava-se a espreitar o jornal no café enquanto esperava um amigo para conversar. E eram capazes de estar horas a discutir uma qualquer notícia.

 

O meu primeiro contacto com os livros é através da minha mãe e da Teresinha, enquanto observava sem entender o entusiasmo com que falavam de pessoas e histórias como se os conhecessem realmente.

O mesmo entusiasmo com que se acompanhava a novela da noite, e se torcia para que os apaixonados vencessem as dificuldades e ficassem juntos, e que os maus fossem castigados. Eu não sabia ler, era mais fácil acompanhar a história da novela, os desenhos animados. Mas as histórias já me apaixonavam.

 

Com a entrada na escola primária e o acesso a descodificar o código secreto até então, da escrita, abriu-me um novo mundo: a leitura e todos os segredos que os livros contêm.

 

Eu era uma criança muito tímida. O primeiro contacto com as pessoas era desconfiado. Ainda hoje, lá na terra quando me cumprimentam, lembram: “Quando eras pequena, andavas sempre agarrada às calças do teu pai”. É verdade, eu espreitava por trás das pernas do meu pai, assim sentia-me mais protegida. Eu era tão tímida que podia estar a babar por uma fatia de bolo que alguém me estava a oferecer, que eu limitava-me a abanar a cabeça negativamente, só para não ficar vermelha ao falar.

 

Apesar disso eu era curiosa, e depois do primeiro contacto, quando desaparecia a sensação de estar a ser observada eu conseguia libertar-me. Com esta personalidade, ao longo da minha vida nunca fui a que tinha a agenda preenchida de A a Z, com o número de telefone dos amigos. Era selectiva nas amizades, e as que fiz foram as melhores do mundo (para mim).

 

Os quatro anos da primária, foram passados com a Daniela e a Bernardete que veio do Canadá e tinha a colecção toda da Barbie e ouvia Madonna. Eu não tinha nada disso. Na segunda classe chega à terra a Gina. Ela era lisboeta. Com ela traz os livros: “Os cinco” de Enid Blyton. São as primeiras histórias que devoro.

 

Nessa época, eu dividia-me entre as amigas das bonecas que me ensinaram questões importantíssimas do processo de socialização, e as aventuras com a Gina inspiradas nos livros que líamos e depois imitávamos. Recordo-me de passar tardes inteiras, a resolver “mistérios da nossa imaginação” embrenhadas nas florestas da terra. Sim, nessa época saíamos da escola, íamos a casa almoçar e desaparecíamos até ao jantar. E ninguém se preocupava com isso.

 

Já no ciclo, a visita das autoras de “Uma aventura”, levam-me a ler a primeira “Na cidade”. Convenço a minha mãe a comprar-me a colecção. Estamos no início da década de 90, os meus pais trabalham os dois e existe alguma folga para que ela me compre um livro por mês (hoje essa colecção espera que o meu pequenote lhe pegue, um dia).

 

No secundário, essas histórias que eu lia (eu frequentava a biblioteca da Fundação Gulbenkian, que existia no concelho), deixam de ser suficientes. Precisava de entender outros mecanismos: o amor, as relações, o mundo dos adolescentes. Começo a mudar de secção.

 

Um dia, na praia a minha mãe tinha com ela uns livros da colecção “Harlequin”. Na altura, devorei uns poucos, junto com revistas de adolescentes como a “Super Pop”. Nessa época recordo de não me sentir integrada, porque não tinha nenhum ídolo. As minhas amigas faziam um “escândalo” perante a foto do “Jon Bon Jovi”, outras pelos Nirvana e eu não conseguia adoptar o mesmo comportamento.

 

Agora sei duas coisas: a primeira é que os livros da “Harlequin” desenham sempre o mesmo mundo impossível, para mim são pobres no conteúdo, mas serviam para entreter e sonhar. E que essa minha não identificação com os ídolos, me permitia circular entre os vários grupos livremente porque nenhum se sentia ameaçado pelas minhas convicções.

 

Um dia, tropecei numa história entre os livros da minha mãe. Era “E tudo o vento levou” de Margaret Mitchell. Devorei o livro. Não pude dormir enquanto não terminei de entender a Scarlett. O que me prendeu no início foi o facto de ela ser a protagonista mais “odiosa” que eu tinha conhecido até então. Tinha crescido com as histórias da "Cinderela". Até então, as protagonistas tinham de obedecer a um determinado padrão de bom comportamento para que merecessem um final feliz. A protagonista era mimada, vaidosa, traiçoeira: “como é que ia acabar?”. No fim do livro, percebe-se que são essas características de Scarlett que lhe permitem sobreviver e continuar onde a maioria padece. Fica a frase: “Amanhã é outro dia”. E como “plus”, aprende-se acerca da história da Guerra Civil Americana sem ter de estar a decorar o manual da disciplina.

 

Algo acontece em mim. Este livro foi mais que uma leitura, mais que um companheiro de horas vagas, este livro faz-me olhar o mundo de outra forma, transforma a minha visão. O que até aí é encarado como defeito e deve ser mantido em "cinta apertada", porque senão a divindade castiga (tive educação católica), afinal pode ser uma virtude dependendo da circunstância. O livro ajuda a torna-me mais tolerante com as acções dos outros. A não ver só a acção, e tentar entender o motivo, perceber qual foi a ignição. Claro, que o processo não aconteceu de um dia para o outro. Durou anos, umas quantas experiências na versão realidade, e outros tantos livros com as suas histórias.

 

Cresci, tornei-me adulta, o tipo de leitura foi mudando, o tempo dedicado à leitura também teve oscilações, mas continuei e continuo a procurar nas partilhas dos autores, nas histórias respostas que me ajudem a entender a realidade.

 

Deste mundo tão grande nós só temos acesso a uma pequena parte. Os livros multiplicam o acesso às maravilhas da humanidade.

 

Dizem que um mundo culto é um mundo livre, e eu acredito que sim. Os livros são excelente adubo de cultura, apesar de que hoje em dia temos muitas opções. Eu sou uma romântica, dá-me imenso prazer folhear as folhas de um livro, parece que o contacto se torna mais íntimo com a história. Consigo irritar o pessoal cá de casa com um livro na mão: eles chamam, chamam, chamam porque vêem o meu corpo físico, mas eu não respondo por que estou lá longe a viver a história narrada.

 

Não troco a experiência real, pela contada, porque a real tem mais cor, mais sentido, mais conteúdo, mais aroma, mais vida. Mas não dispenso uma história, que complete a minha perspectiva.

 

E ainda sou uma leitora diversificada, tanto leio “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Màrquez, como devoro as tiras da “Mafalda” de Quino, ou sonho com o príncipe com a Saga “Twilight” de Stephenie Meyer. Fui das poucas que leu “Os Maias” de Eça de Queiroz, no secundário e gostou. Confesso que os primeiros 6 capítulos são difíceis com tanta descrição e rococós, mas a história do incesto é surpreendente e bem contada. Creio que entendo melhor hoje Camões e Fernando Pessoa que entendia na época. Isso explica-se pelo ganhar de experiência e possibilidade de comparar, que na altura eu não tinha. Creio que é isso que os torna autores difíceis para os jovens.

 

Leio os Blogs, mas confesso que não sou fiel a nenhum, existem alguns por onde passo os olhos mais amiúde como o da Anabela Mota Ribeiro (sempre com um conteúdo cultural de primeira), ou o Varufakis (muitas vezes hilariante com as suas confissões masculinas), Marta - O meu Canto (com questões pertinentes da rotina e não só), StoneArt Portugal (com a sua visão das coisas) e etc…

Vou ser injusta em não nomear a outra dezena de blogs que visito, mas fica para outra oportunidade. Se fosse a nomear todos os livros, filmes, séries, blogs, revistas que consulto e consumo teria de fazer um só post e não sei se seria capaz de ser totalmente fiel.

 

Actualmente vivo num país cujo clima no inverno é pouco convidativo a saídas ao exterior, por isso acredito que aumentarei muito essas listas, nos próximos anos. O pequeno cresceu e, começa a querer conviver mais com os amigos que comigo, como acontecia até agora. Isso é um bom motivo para carregar livros na lancheira, nas visitas ao parque quando o tempo permite. Enquanto ele brinca, nós dividimos a atenção: um olho no livro e outro no petiz.

Apesar de que me acontece uma coisa com frequência: quando não levo nada para ler ninguém fala para mim, mas basta eu baixar os olhos para uma folha e a mamã que está ao lado tem logo uma vontade louca de me contar a infância toda do seu petiz. Acontece-vos?

 

Os livros não são a minha vida, mas definitivamente são uma personagem importantíssima da minha história.

Boas leituras!

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