Sobre adaptação e integração em novas culturas! Testemunho I – Elena Oliveira
Numa altura em que tanto se fala de “migrações”, achei que poderia ser interessante ouvir o testemunho de pessoas que saíram do seu país natal, e enfrentaram os desafios de se adaptar e integrar em culturas diferentes.
Esta arte de ir (emigrar) corre no sangue português, e eu sou herdeira dela. Neste momento, faço parte desse grupo de aventureiros que pelos mais diversos motivos partem para outras nações, e quero partilhar convosco o que é isto de sair do berço à beira-mar plantado e ir descobrir o mundo possível.
Convidei algumas pessoas, que gentilmente aceitaram deixar aqui o seu testemunho, e que mais uma vez agradeço a partilha.
Abrimos com o testemunho da Elena Oliveira, que sendo filha de emigrantes portugueses na Venezuela, escolheu voltar a Portugal para viver a sua vida adulta. Convido-vos a ler:
“Olá. Sou venezuelana e os meus pais são portugueses, coisa que adoro, pois fui criada com a mistura de culturas.
Eu costumava vir cá de férias, e aos poucos fui conhecendo gente cá da minha terra.
Decidi vir para aqui, pois mesmo achando que Venezuela em termos de paisagem é o país mais lindo do mundo, em relação a liberdade não o é. Não tinha aquela possibilidade de sair e ter os meus amigos de rua. Enquanto eu chegava aqui e andava de bicicleta, ia a festas e arraias e tinha os meus amigos.
Decidi mudar de vida quando acabei a escola lá, e vim para entrar na universidade, coisa que aconteceu logo. Assim que entrei, conheci uma miúda que hoje em dia é uma irmã para mim, e foi com ela que tive a integração na universidade.
Foram cinco estrelas comigo ao ponto que hoje, tenho amigos para a vida. Trato as pessoas conforme gosto que me tratem, por isso acho que tenho tido a retribuição.
Nestes anos descobri que a melhor coisa que um pode ter é a liberdade, que o resto vem por acréscimo. Haja saúde e vontade de trabalhar que o resto aparece. Portugal pode não ser um paraíso mas, temos liberdade, lugares maravilhosos, já fiz a minha vida cá, tenho casa, trabalho, os meus filhos. Um ritmo de vida doido, mas é assim que eu gosto. E mesmo com convites para sair de cá, eu já não troco este país.
Quero voltar à minha terra mas, agora só de passeio, para mostrar aos meus filhos onde nasci.
Vim com 17 anos, há 18 anos atrás. Costumo dizer que sou metade portuguesa e metade venezuelana, por isso choro, grito e indigno-me na mesma proporção com as saudades, faltas de respeito ou acontecimentos de ambos países, porque eu sinto que ambos países me pertencem como eu pertenço a ambos...
Em termos de tradições adoro música cantada em português e muitos músicos portugueses. Enerva-me ver programas de música ou concursos em que não cantam músicas portuguesas.
E só há uma coisa que não mudo por nada do mundo, no meu Natal tenho que comer “Hallacas” e não bacalhau.
Este é o meu prato de Natal: “Hallacas” com salada de galinha e pão de “jamon” (fiambre). As “Hallacas” são feitas com massa de “Arepa” e coloca-se numa folha de banana e depois recheia-se com um “guiso” (guisado) de carnes, fiambre, bacon, azeitonas, cenoura e outras coisas que não me lembro no momento. Enrola-se e coze-se na própria folha de banana.” - Texto e fotos de Elena Oliveira.
A Elena entre as muitas actividades que desenvolve na sua vida agitada, dedica uma parte à arte da pastelaria e ao artesanato. Para conhecer o trabalho que ela desenvolve podem visitar o seu blog "Coisinhas da Elena", ou a pàgina no Facebook (basta seguir os links, vão gostar).
Fotos de alguns dos seus trabalhos:
Para ler também a primeira parte do testemunho de Andrea Abreu (França), clique aqui.
Para ler também a segunda parte do testemunho de Andrea Abreu (França), clique aqui.
Para ler também o testemunho da Ana Leão (Canadà), clique aqui.
Para ler também o testemunho da Carla Tavares (Alemanha), clique aqui.
Para ler também o testemunho da Carla Vieira (Alemanha e França), clique aqui.