Sou elefante em loja de cristal ? Sou a que busca maçãs no limoeiro? Sou peixe fora de água ?
Por estes dias, numa conversa com alguém que conheço há pouco, ela diz-me muito simpaticamente:
- És tão inteligente.
Respondo automaticamente, quase sem pensar:
-Pareço-te. (Foi uma afirmação).
Fico sempre muito aflita quando as pessoas se colocam logo a adjectivar a outra, sem pelo menos uma “discussão” (troca de ideias) decente primeiro.
Eu percebo a intenção de ser simpática. Até é uma necessidade usar a simpatia para socializar. É agradável ouvir elogios. O problema é que me sinto elefante em loja de cristais, sei que está mal, mas não consigo corrigir sem causar estragos.
Quando se colocam as expectativas num patamar acima do normal/aceitável, é para ficar aflito. Primeiro, porque o mais provável é que não consiga manter sempre a fasquia tão alta. E segundo, porque parece “graxa” e é inevitável perguntares-te “o que é que esta quer?”.
Não sou normal? É provável que não.
Imagem no blog "Cleopatramoon".
Depois fiquei a pensar: “Inteligente? O que é inteligente?”
No dicionário online “Priberam” (um dos poucos que não é: “.br”) diz que é:
Mais uma pesquisas e sinto-me a tentar apanhar maçãs em limoeiro, porque os resultados são sempre parecidos e pouco esclarecedores. Inteligente é o que tem inteligência. Dah!
Procuremos então: o que é inteligência? No mesmo dicionário online “Priberam” as coisas começam a ganhar sentido:
Inteligência é o conjunto de faculdades intelectuais. Muito bem.
Todos os humanos estão equipados com esse conjunto, correcto?
Então porque classificamos uns como “os inteligentes”? O que nos faz fazer diferença entre os que supostamente são e, os que supostamente não são?
Ou sou eu que dei demasiada importância a um banal adjectivo?
Sinto-me peixe fora de água.
Quando eu andava na escola, “inteligente” era o que tinha todas as respostas.
Ora eu tenho todas as perguntas. Agora as respostas são poucas.
Hoje em dia, no mercado de trabalho, “o inteligente” é o que manda fazer e não o que faz.
Eu procuro respostas, e para isso tenho de fazer, porque se mando fazer perco partes importantes do processo.
Estou perdida. Afinal o que é inteligente? Como se mede inteligência? Não somos todos nós inteligentes?
Se a esta altura esperavam uma boa resposta para tanta pergunta, tenho de vos desiludir: não a tenho.
Em relação, ao elogio que me fizeram, eu acredito que se baseou na minha memória dos factos sobre o assunto que conversávamos.
A memória faz parte dos atributos da inteligência, mas não é o único. Inteligência é um conjunto de atributos. O correcto teria sido dizer: “Que bem que te lembras./Que boa memória.” (Muito obrigada, respondo).
Existem palavras/adjectivos que carregam um significado com peso. Quando usados literalmente e em certos contextos criam expectativas que podem produzir o efeito contrário ao pretendido. No caso queriam gerar simpatia, e geraram desconfiança e medo ( em dose não letal, convém esclarecer).
As palavras são espelhos de múltiplas faces, e nunca sabemos qual delas vai ficar visível.
E eu estou na horta e parece que não vejo as couves.
Imagem no "Diário da Horta".