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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Pagar pelo ensino melhora os resultados dos meus filhos?

"Os olhos também comem" é uma expressão que ouço muito, mas acho que posso afirmar que a vejo todavia mais. Ver? Como assim?

Se pensarmos em comida, dois pratos feitos com os mesmos ingredientes, com os mesmos valores nutricionais, podem despertar diferentes apetites de acordo com a apresentação. No fundo são a mesma coisa, mas a decoração impressiona-nos. Esta regra não se aplica só a comida, aplica-se a quase tudo: serviços médicos, restaurantes, livros, etc. O ser humano tende a desprezar o conteúdo, se a capa for estéticamente do seu agrado. Depois lidará com os problemas que isso acarreta, sem se dar conta que a escolha inicial podia ter sido melhor se não fosse tão impulsivo. 

Esta nossa debilidade é largamente explorada por quem quer ganhar dinheiro e nós pouco conseguimos fazer contra a arma que eles levantam contra nós: o marketing (a arte de manipular atenções). Vejo-o todos os dias quando alguém gasta mais num par de sapatilhas do que seria necessário, quando alguém escolhe um funcionário pela roupa, quando decide um tratamento de saúde pela decoração da recepção, etc. São milhões de ações diárias que tomamos baseados no que nos parece, sem parar um segundo para refletir se a aparência de qualidade é real.

Infelizmente, isso atinge o mundo da educação. De uma forma que, me parece, ainda ninguém parou para mesurar o dano. 

Hoje, li pela pouca imprensa que ainda  é acessível à maior parte de nós que paga aquele imposto disfarçado na conta de luz, que as provas globais de matemática mostraram mais uma vez que há problemas graves no ensino. E como colaboradora de um centro de estudo, não pude pensar na ironia da situação. 

Os discursos contra o sistema público de ensino é uma constante, atualmente. É triste pensar que foi esse sistema que permitiu à maioria poder aceder a uma formação, para nos dias de hoje abrirem a boca para criticar aquilo que não souberam proteger e melhorar. Apesar da educação recebida, esta não foi suficiente para os livrar dos olhos cegos que não vêem além. Falha nossa!

Então, esta geração de adultos agora quer o melhor para os seus filhos e passou a acreditar que com dinheiro, para aceder a melhores decorações, o vão conseguir. Desculpem! Estou muito triste, mas vou ter de os desiludir. Aquela fortuna que pagam na escola privada (que vive de vos explorar tanto pela mensalidade, como pelos subsídios que o Estado lhes dá que sai dos vossos impostos) não vai garantir um melhor ensino. Não vai, porque não pode. Essas escolas contratam professores, não por serem os melhores da sua área, mas por serem os mais obedientes: afinal, ninguém quer chatear alunos que trazem tanto dinheiro para a instituição.

O mesmo ocorre nos centro de estudo. Os pais pagam fortunas para que os filhos tenham explicações, mas os centros que dependem desse dinheiro não se vão atrever a frustar os alunos. Não nos é permitido fazê-lo, porque o centro de estudo quer o vosso dinheiro, não o sucesso dos vossos filhos. E as pessoas levam o dinheiro para onde se sentem bem, não é?

Esta situação, não só contribui para a cada vez maior baixa qualidade dos nossos estudantes que um dia terão de competir num mercado global com gente mais bem preparada, como tem contribuído para um fenómeno que me parece ainda não é visível aos olhos da maioria: a inversão do papel da autoridade. Sim, quem manda hoje no ritmo de uma sala de aula são os pequenos, os adultos preparados têm que se curvar à vontade dos pequenos ditadores ignorantes que estamos a criar.

Há guerras a pipocar, e com a qualidade de decisores que estamos a criar vão-se multiplicar. Hoje, aquele que menos sabe tem mais poder, porque os paizinhos pagam. Assim que, não vale a pena esperar por melhores resultados a matemática ou no que seja. 

Talvez sem nos darmos conta, a nossa preocupação para acabar com a autoridade tóxica que existia, acabamos por cair noutro problema: a autoridade tóxica só mudou de lado. Eu sou a primeira a apoiar a ideia de bem estar mental, de motivar o aluno em vez de obrigar, etc. Mas isso não se faz à custa do bem estar social geral. 

Os professores precisam recuperar autoridade dentro das salas (autoridade com respeito, óbvio). Os professores precisam de melhor formação contínua. Os professores precisam frustar os alunos. Os alunos não podem chegar a uma sala de aula achando que só estudam se querem, porque se é para isso, vão para a creche e brincam o dia todo, deixando o espaço escolar para quem realmente quer aprender.

Isto não é só um problema das escolas, dos professores, dos alunos e do dinheiro, isto também é um problema de parentalidade. Pais, por favor, comam menos com os olhos e ajam mais. Ensinem nas vossas casas os vossos filhos a estar em sociedade, e isso não é só ensinar a comer com garfo e faca: é preciso ensinar desde muito pequeninos os vossos filhos a respeitar o outro, a sua função e o espaço alheio. Estes pais deslumbrados com o cargo que conseguiram graças ao estudo numa escola pública, podem achar que estão a arrasar quando o seu dinheiro e a falta de educação básica do seu rebento transformam o professor num funcionário do filho, cuja prioridade diária é fazer o melhor para que a sua criança não se fruste. Porém, preparem as carteiras para ajudar o vosso filhos a pagar o psicólogo quando chegar à idade adulta e perceber que podia ter aprendido muito e não o fizeram, quando chegarem à idade adulta e perceberem que já não há dinheiro do papá que faça o mundo se curvar a seus pés. Daí a medicação e a uma vida cheia de frustações adiadas será um passo!

Repensemos, talvez ainda haja tempo. Pagas ou não pagas, exijamos que as escolas cumpram a sua função: ensinar. Não ganhamos nada com a classe de professores ajoelhada perante um bando de "fedelhos" que acha que sabe o que nunca ouviu falar. E, eu sei que as escolas e os centro de estudo viraram depósitos de crianças, mas eles podem cumprir com muito mais. 

Em relação aos centros de estudo, fontes de fortunas para os donos, perguntem aos vossos filhos o que se passa por lá. Talvez descubram que aquela professor super fofa, seja apenas mais uma desistente que se deixou ir com a maré, e para a qual não tem a menor importância se os vossos filhos serão capazes ou não de aprender o que necessitam.

A pergunta que eu mais ouço é : "para quê aprender isso?" A resposta é simples: para que saibam que existe e para não cairem em contos de fadas, contados por uns mais espertinhos que souberam aproveitar a escola. Além de que conhecendo os erros passados, podemos evitar repeti-los, como vemos ocorrer no mundo agora que as gerações mais velhas e mais sábias nos vão abandonando.

A escola é uma montra do mundo, aproveitem-na. Não se deixem manipular por esses olhos cegos ao que realmente importa.

PS: o texto foi publicado a frio, se houver alguma gralha, agradeço que me avisem. Obrigada!

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