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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

A lei do Ruído, a sua ineficácia e a falta de educação

Depois de uma ausência prolongada estou de volta a casa. Chamar-lhe casa, no meu caso, é um pouco ingrato, porque "casa" devia ser um refúgio para carregar baterias e não um campo de batalha para conseguir que respeitem o meu espaço e o meu direito ao descanso.

Não sou adepta de criar "inimigos", e muito menos à porta de casa. Digamos que não me soa muito inteligente! Assim que, estudei os meus direitos e deveres, coloquei o meu melhor ar diplomático e fui "à luta". Afinal passar meses a dormir menos de 6h/dia não garante saúde e sem ela não se Vive.

Conversando com alguns vizinhos "em off", ouvi queixas. Eles referiam-se às actividades sexuais de um casal mais entusiasmado, e sem noção, que vive no prédio. O assunto foi levado a uma reunião de condomínio pela senhoria de um dos apartamentos. Alguém aproveitou a deixa para resolver a situação? Não. Deixaram-na a falar sozinha! (Tão típico do português: queixar-se nas coxias, mas na hora de dar a cara e defender os seus direitos assobia para o lado!) Mau sinal, pensei.

Assim que, primeiramente, tentei identificar a origem dos barulhos. É mais difícil do que possa parecer, porque o barulho faz vibrar as paredes e os sons percorrem caminhos inimaginados (culpa das caríssimas construções sem qualidade que temos). Quando consegui alguma identificação bati à porta e, com o ar mais humilde que consegui, pedi que evitassem fazer barulho para que pudéssemos descansar. Eu trabalho e não sou muito produtiva com sono, e o meu filho tem de ir para a escola sem adormecer na aula. O meu segundo Sinal foi nesse momento: parecia que eu estava a cometer um crime por ir pedir para não invadirem a minha propriedade com barulhos evitáveis.

Decidi experimentar uma via mais didáctica, afixei na entrada do prédio os efeitos maléficos da exposição ao ruído e um pedido para que diminuíssem o barulho das actividades caseiras durante os períodos de descanso. Sem efeito! Limitaram-se a retirar os papéis e ignorar o apelo. 

EFEITOS DO RUÍDO NA SOCIEDADE.JPG

Parti para outra estratégia, contactei a administração do condomínio e pedi que fizessem o que estivesse ao seu alcance para que a mensagem chegasse a quem devia. Sugeri que reenviassem o Regulamento Interno, mas as administrações externas ao prédio não estão para se chatear. Assim que se limitaram a colocar uma folhinha A4 com um texto resumido da Lei do Ruído. Para minha surpresa parecia ter funcionado. Já não havia barulho de camas a bater nas paredes embaladas por suspiros, já não havia motas a dar aceleradelas às 2h da madrugada na garagem do prédio, o som de cadeiras a arrastar e portas a bater diminuiu, até o baile dos exaustores parecia ter parado. Peguei e enviei os meus agradecimentos e estava pronta para encerrar o assunto.

Uns dias depois, um apartamento, dois andares acima de mim, resolveu iniciar obras sem respeitar nada, nem ninguém (acho que acreditou que era rico e vivia numa moradia, assim podia fazer o que lhe apetecia). Enviei-lhes um mail e eles responderam comprometendo-se a respeitar as normas. Mas, o desastre já estava feito. Na boleia do ruído feito por eles, os vizinhos sentiram-se livres para voltar a comportar-se sem o mínimo respeito pelo próximo.

Achei que seria uma boa forma de comunicar com todos, enviar-lhes uma carta desejando um bom ano e expondo o problema do barulho, sugerindo que nos reuníssemos para discutir o assunto. Na carta partilhei algumas formas de diminuir o barulho, como colocar borracha ou cortiça nos batentes das portas, nos pés das cadeiras ou mesmo nos móveis com gavetas e portas de correr. Falei na importância de encostar as portas e não as bater, guardar as limpezas mais intensas para os períodos diurnos, etc. A única reacção foi aquele olhar, cruzado nos corredores, à espera que eu me mostrasse envergonhada pelo gesto. A incomodada e agredida é que tem de aceitar o crime!?

O tempo corre sem respeito e eu hesitei em chamar as autoridades, porque só quero que me deixem dormir. Não estou interessada em procurar culpados ou fazer alguém pagar uma multa de 200€. Contudo, ontem aprendi que não se pode sentir compaixão por quem te falta ao respeito. Eles confundem compaixão com fraqueza. O que aconteceu ontem?

Com uma criança em casa, que tem de se levantar às 7h, nós organizamo-nos para diminuir as actividades a partir das 20h e por volta das 21h30 estarmos na cama. (A lei define que os barulhos fortes, como os das obras, devem cessar a partir das 20h). Ontem, já passava das 22h45 e a vizinha falava como se estivesse na praça, ao mesmo tempo que batia portas, deixava cair coisas ao chão, arrastava móveis e sei lá que mais. Levantei-me e saí para as escadas. Subi e desci duas vezes o prédio, para ter a certeza de que o barulho vinha da porta em frente ao meu apartamento. Bati à porta e educadamente pedi para diminuírem o barulho. Levei com a porta na cara.  Ouvia-a lá dentro a gritar "que era inadmissível" o meu comportamento. Insisti e bati de novo para repetir o pedido, estava claro que ela não o tinha entendido. Desta vez, foi o filho que abriu a porta aos berros. Segundo ele estar aos berros às 23h é o que eu tenho de aprender a aceitar, porque é assim que funciona os apartamentos (vivi noutros apartamentos e não funciona assim, simplesmente por que não pode ser assim, trata-se de saúde pública e educação). Berrou ele, berrou ela, berrou o marido dela dizendo que eu precisava de um médico. Recusei-me a levantar a voz e participar do circo, o que me impediu de dizer o que era preciso, apesar de eu precisar que me escutassem. Devo referir que entrou gente no prédio nesse momento e ninguém se aproximou para tentar resolver a situação. Visto que não ia conseguir resolver nada nesse momento e o meu filho estava a assistir, resolvi entrar em casa. Como crianças mimadas, eles fizeram ainda mais barulho por uns 10m, como se assim provassem que podem fazer o que querem. Como "mãe" compreensiva esperei que se acalmassem, de telefone na mão para chamar a polícia, caso o berrinche não acabasse até às 23h30.

Como não me deixaram mais opção, hoje contactei a polícia para saber como funciona a intervenção das autoridades nesta situação. E mais uma vez, comprovei por que tanta gente se atreve a não respeitar as leis: a polícia não pode fazer quase nada. Gentilmente o agente explicou-me que só pode intervir se na hora que eles chegarem for detectado o barulho e ele não cessar na sua presença. Compreendo que não têm material legal para fazer diferente, mas assim fica difícil garantir credibilidade para esse sector tão importante na inibição de comportamentos daninhos à existência social.

Sinto-me mal por ter de chamar as autoridades num caso de simples falta de educação, contudo também sinto que enquanto não forem as autoridades a definir o direito ao descanso, este circo não terminará. Começo a achar que terei de chamar as autoridades várias vezes até que eles possam intervir. Terei de usar os escassos recursos públicos para educar a vizinhança? Regredimos tanto socialmente?

Sinto o peso da injustiça que cai sobre os ombros das vítimas e temo a força que uma justiça tão pouco eficaz permite aos abusadores. Principalmente, porque sentados nos seus sofás estão todos aqueles que se queixam na surdina, mas ficam a padecer quietos à espera que alguém faça por eles. 

Não sei como se vai desenrolar esta "novela". Neste meio tempo terei de reunir vídeos, cartas, mails e testemunhos para me defender. Restou-me os tribunais, parece! Aceito sugestões para solucionar o problema e até chamadas de atenção se estiver errada em algum ponto. Partilhem comigo se já passaram por algo parecido.

Eu só quero poder dormir sem ser acordada com pancadas secas nas paredes. Não quero, nem posso recorrer a drogas para dormir, porque vivo com uma criança que pode precisar de mim a qualquer momento e tenho de estar capaz. Além de que recorrer a essas drogas por causa do barulho da vizinhança é duplicar o problema, porque os seus efeitos são tão, ou mais, daninhos que a falta de descanso. Quero poder trabalhar sem olheiras e dores de cabeça causadas pelas noites sobressaltadas. Não quero ter de me preocupar com o impacto que viver assim terá na saúde do meu filho.

Deixo aqui o link para o Regulamento Geral do Ruído. Onde destaco o artigo 24º, para perceberem como é falho e precisa ser melhorado: 

"Artigo 24.º
Ruído de vizinhança
1 - As autoridades policiais podem ordenar ao produtor de ruído de vizinhança, produzido entre as 23 e as 7 horas, a adopção das medidas adequadas para fazer cessar imediatamente a incomodidade.
2 - As autoridades policiais podem fixar ao produtor de ruído de vizinhança produzido entre as 7 e as 23 horas um prazo para fazer cessar a incomodidade."
 
Se fizerem uma rápida pesquisa sobre "Quais os efeitos do ruído na saúde humana?", vão encontrar uma imensidão de resultados, visto que se trata de um problema que preocupa as autoridades. Destaco este texto do portal do ambiente de Valongo, porque me parece resumir muito bem o impacto do barulho sobre a nossa saúde:
 

"...consequências da exposição ao ruído, com efeitos a médio ou longo prazo, são: perturbações psicológicas ou fisiológicas associadas a reações de stress e cansaço. O ruído causa perturbações do sono e prejudica a capacidade de concentração e de memorização. Estimula ainda um conjunto de sintomas como: irritabilidade, mau humor, perturbações do aparelho digestivo, hipertensão arterial e interfere com a comunicação, com a produtividade e qualidade da produção, etc. O ruído é, portanto, uma questão de saúde pública. O seu controlo e diminuição requerem o empenho e a colaboração de todos."

Aumentar a qualidade de vida nas nossas casas, neste caso apartamentos, é um gesto colectivo que conta com o esforço de cada um de nós. Muitas vezes, nem nos damos conta de como estamos a ser inconvenientes, mas devemos ter presente que não temos apenas direitos. Se alguém nos faz uma chamada de atenção: devemos reflectir, pedir desculpa se for o caso e corrigir o erro. Atacar aos gritos apenas deixa em evidência a tua falta de argumentos para defender a tua posição, e isso devia ser o primeiro sinal para perceberes que se calhar estás errado e te acalmares.

É muito bonito ver a solidariedade pelos povos que vivem pior que nós, ou sentir-se tocado por que um vizinho está a lutar com uma doença, mas é muito mais bonito contribuir com respeito e educação para a tua comunidade. É muito mais útil comportar-se bem com os que estão próximos. Para que um dia não cheguemos à conclusão de que o nosso vizinho não goza de uma boa saúde porque não o deixamos dormir, porque somos tão egocêntricos que é mais importante andar com o aspirador às tantas da noite que o deixar descansar para que o seu sistema imunitário se possa recuperar. 

Acredito que podemos ser esse tipo de pessoas, que respeita o espaço dos outros e não o invade com barulho e falta de educação. O lugar onde vivemos será mil vezes melhor com esses pequenos gestos.

 

Uma última citação; em 1910, o médico alemão Robert Koch, famoso por ter descoberto o bacilo da tuberculose, já tinha dado o alerta: “Um dia, a humanidade terá de lutar contra a poluição sonora com a mesma determinação que luta contra a peste ou o cólera”. Os avisos estavam aí, a Humanidade esperou que se torna-se um problema real. Pois, já aconteceu e chegou dentro das nossas casas.

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