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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Reflexão "Os caminhos escolhidos pela humanidade" e "Para onde vamos?"

Para acabar o ano a reflectir sobre o que 2015 anos de história da Humanidade, mais os milénios anteriores ao nascimento de Cristo, vou partilhar a visão de um señor uruguaio.

Precisamos reflectir: "Como chegamos à construção da civilização actual?" e como adoramos por preço a tudo: "Quanto é que nos vai custar a civilização onde vivemos, da forma como a consumimos actualmente?"

O Homem é um inventor, um conquistador que sempre foi criando as suas sociedades segundo regras que com o tempo se venciam a si mesmas, exigindo à Humanidade capacidade de mudança e adaptação. E a Humanidade sempre respondeu e venceu (até agora pelo menos). Viemos de Impérios Romanos, Impérios coloniais, Império Mongol, etc… (Porque a lista é grande). E sempre que estes impérios não serviam a sua maioria, caíam. 

Acho que hoje vive-se no Império Capitalista, que nos trata como crianças mimadas, que vão sendo entretidas com “brinquedos” para que não chateiem os “adultos/gestores” enquanto eles cuidam dos seus interesses.

Acho que este Império Capitalista não está a servir a maioria, e pede a gritos mudanças. E desta vez, temos uma agravante: é que o nosso planeta, que também é um ser vivo com os seus caprichos, fartou-se do abuso que fazemos dos seus recursos e nos tem enviado mensagens claras: é preciso mudar. Somos uma sociedade que sabe ler essas mensagens, mas ainda não sabemos actuar de acordo. Não estamos preparados ou não queremos saber do que possa acontecer à Terra no futuro?

Mas, melhor do que eu para falar sobre este assunto, está um señor sul-americano, que reflectiu sobre estas questões durante anos e anos. Vou partilhar parte da sua história e o seu discurso que fez história, mas ainda não provocou a mudança necessária.

Em 2013, um velho político de um pequeno país sul-americano fez um discurso na Assembleia Geral da ONU (queres saber "o que é a ONU?", clica aqui). Até aqui a situação seria totalmente corriqueira, porque discursar é papel fundamental de quem vive na política.

Mas este senhor não fez qualquer discurso, ele apontou durante mais de meia hora o dedo às feridas da humanidade, indicou erros, chamou as atenções, fundamentou os seus argumentos e ofereceu possibilidades. O que disse não foi do agrado dos capitalistas, mas chamou a atenção (porque os seus apontamentos têm fundamento).

Estamos habituados a ignorar discursos políticos, porque são sempre vazios de conteúdo. Cheiram a hipocrisia. A maioria dos políticos limita-se a arranjar culpados para os problemas que não consegue solucionar, e vende-se ao capitalismo como forma de se manter. Um problema Global. A maioria dos políticos tem pé de barro, porque pede ao seu povo uma coisa e a sua conduta segue outra linha completamente diferente.

Este velho político caiu nas bocas do mundo, exactamente pelo contrário: "discreto" até ao momento em que fez esta intervenção na Assembleia Geral da ONU, momento em que o mundo passa a olhar para o seu pequeno país e para o seu estranho presidente e a perguntar-se “É possível? É possível, fazer as coisas de outra maneira?" (pelos vistos é!)

Este político de que falo, é o señor José Pepe Mujica, antigo guerrilheiro (o que lhe custou quase 15 anos de prisão e solitária) que chegou à presidência do seu País, o Uruguai, entre 2010 e 2015, tendo ocupado anteriormente o cargo de Ministro do Gado, Agricultura e Pesca.

Entrevista no canal "SCpresidenciauy".

É conhecido como o Presidente mais pobre do mundo. Mas, a palavra “pobre” aqui, tem de ser analisada. O salário oficial que recebe, é de 12500 dólares/ano (cerca de 11300€, actualmente), mas vive com apenas 1300/ano dólares (cerca de 1180€). A diferença é entregue às diferentes causas humanitárias com que convive, como a construção de vivendas para os mais carenciados (parecido com o nosso Presidente, não é?!). Por isso, ele pobre não é, apenas não vive acima do necessário. Ele não é austero, é apenas sóbrio. Gosta que respeitem a sua sobriedade, da mesma forma que ele respeita a falta dela nos outros.

Se ele não é pobre, porque é que lhe chamam “o Presidente mais pobre do Mundo”?

Porque em vez de viver na residência oficial da Presidência Uruguaia, ele preferiu continuar a viver na sua Chacra (quinta), continua a conduzir o seu velho carro, e não exibe “luxo”. (Vive como as gentes da sua nação, em contraste com todos os outros Presidentes deste Mundo. Ele não é pobre, os outros é que se fazem ricos!).

Mas, quando fala, fá-lo com propriedade, fá-lo de uma forma entendível, fala como alguém que reflectiu muito e sabe perfeitamente o que diz e onde quer chegar. (Mais uma vez destoa dos políticos a que nos habituamos: onde a austeridade é aplicada ao povo e nem sombras de sobriedade passam pela camada politica. Onde as causas sociais são uma ferramenta de criar voto e não um real problema que precisa de solução. E os discursos, são meras desculpas para justificar sucessivos erros, mas que nunca apontam nada de concreto como resolução. Complicam-se os conceitos, para que pareça apenas importante, mas que não se entenda muito bem do que falam. Igualito, não?!)

A mensagem de José Pepe Mujica 

Para ouvir o seu discurso completo (em espanhol), fica aqui o video do canal "Paulo Martins":

 “... sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nas pampas, nas depressões da América Latina, pátria de todos que se está a formar."

 

"Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com os bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância electrónica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazónia, os mares e nossos grandes rios na América."

"Carrego o dever de lutar por pátria para todos."

"Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz. E carrego o dever de lutar por tolerância. A tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferenças e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes."

"O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse anti valor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e ATÉ NOS FINANCIA EM PARCELAS E CARTÕES A APARÊNCIA DE FELICIDADE. Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até auto-exclusão."

"O certo hoje, é que para gastar e enterrar os detritos nisso a que a ciência chama de poeira de carbono e se desejarmos nesta humanidade consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver. Nossa civilização montou um desafio mentiroso e assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. 

“O pior: civilização contra a liberdade "que supõe ter tempo para viver as relações humanas", as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.

Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.

Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anónimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insónia com comprimidos, a solidão com electrónicos, porque somos felizes longe da convivência humana.

Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior e substituímo-la com o consumismo funcional à acumulação. A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado.

Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais e para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.”

“O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que um dia, o coração pára e adeus.(este é o retrato de um homem tipo actual, que corre em stress constante para nunca chegar!)

“…A CRISE É A IMPOTÊNCIA, A IMPOTÊNCIA DA POLÍTICA …”

Hoje é tempo de começar a trabalhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado de muito poucos e cada Estado Nacional, olha apenas a sua estabilidade contínua. E hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.”

“Mobilizar as grandes economias, não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras.

Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pelo enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa do todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos "reclamáveis", que vão plantear um comércio interno livre, mas que no fundo, terminarão construindo parapeitos proteccionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez crescerá ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.

Continuarão as guerras e, portanto os fanatismos, até que talvez a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações.

Não podemos conduzir a globalização, porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegamos aos nossos limites biológicos”

Os governos republicanos deveriam parecer-se cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.

A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que no fundo amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros factores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.”

“…se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem aos mais fracos garantias que não temos, aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.”

“Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal, deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.”

“Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada eléctrica que está acesa há cem anos. Há Cem anos, que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.

“Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida, significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens com nossa cultura permanecem como se não houvesse acontecido nada…”

O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. Quando a força da humanidade se concentra no essencial, é imensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.”

“Pensemos nas causas profundas da civilização do esbanjamento. Na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjado em questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida.” – Trechos do discurso de José Pepe Mujica, na Assembleia Geral da ONU, traduzidos inicialmente por Fernanda Grabauska no ZHNotícias. Se quiserem ler o discurso completo, este é o link

"No poder, Mujica conseguiu colocar o Uruguai nas bocas do mundo. Não só por ser o presidente pobre, mas também por ter descriminalizado o aborto (foi o primeiro país da América Latina a fazê-lo) e legalizado os casamentos homossexuais. Além disso, foi pioneiro na legalização da produção, distribuição, venda e consumo de marijuana. "Em nenhuma parte do mundo a repressão ao consumo de drogas trouxe resultados. É tempo de tentar algo diferente", disse, defendendo que a violência ligada ao tráfico ilegal é muito pior do que o consumo." - no DN

Actualmente, o señor Pepe Mujica já não é o Presidente do Uruguai, passou a missão ao seu sucessor no dia 1 de Março deste ano. Mas, a sua missão não terminou, continua a sua luta pelo que pensa e pelo que sonha.

Tem sido ajuda nas negociações entre a Colômbia e as FARC para que todos possam encontrar a Paz. E é solicitado pelo Mundo que quer conhecer mais e melhor as suas ideias.

 

Por exemplo, fez parte do projecto francês "HUMAN". Deixo-vos a sua participação e o link para quem quiser ver o documentário completo.

Destaco das suas palavras no projecto "Human": “Ou és feliz com pouco e com pouca bagagem, porque a FELICIDADE está dentro de ti, ou não consegues nada. Isto não é uma apologia da pobreza, mas sim uma apologia da sobriedade. Mas, como inventamos uma sociedade consumista e a economia tem que crescer, porque se não cresce é uma tragédia (tom irónico). Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. (…) Mas, o que estamos a gastar é tempo de vida. Porque quando eu compro algo ou tu, não o compras com dinheiro. Compras com o tempo de vida que tiveste de gastar, para ganhar esse dinheiro. Mas com um detalhe: a única coisa que não se pode comprar é a VIDA. A vida gasta-se. E é miserável gastar a vida, para perder LIBERDADE.”

 

 

Boas reflexões e Boas Festas!

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