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Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Aerdna no Mundo?

A definição da palavra "mundo", não é restrita. A minha preferida, engloba os vàrios conjuntos de realidades concretas e imaginadas. Aqui veremos o mundo pela escrita de Aerdna.

Terceirização da educação parental e alguns dos seus reais impactos...

A chave do sucesso social é a educação e há poucas dúvidas sobre isto. Onde reside grande parte do problema é nos modelos educacionais a adotar. Há formas de educar para todos os gostos e perfis e escolher qual se adapta a nós é um direito. Contudo, a maioria fá-lo pensando em como se sente mais confortável, mas sem medir as consequências que podem advir dessa escolha.

Os modelos educacionais com que nos sentimos mais à vontade são aqueles que conhecemos e com os quais tivemos contacto. Esse detalhe faz com que tenhamos tendência a replicá-los para bem e para mal. Assim, facilmente encontramos adultos que foram educados na rua, a brincar sozinhos, mas que recordam os jantares com os pais sem os gritos e as caras feias que a memória esvaneceu para nos proteger do sofrimento, a querer replicar esse mesmo modelo "meio vivido e meio imaginado" na educação dos seus filhos. Qual é o problema?

Uma possível resposta a essa pergunta é: o mundo em que esses adultos cresceram já não existe, porque ele mudou. Essa mudança não é apenas de tempo, é uma mudança social que reflete os acertos e erros dos educadores de antigamente, mas também se trata de uma mudança pessoal, visto que aquilo que a memória recorda com saudade é um tempo em que outros adultos tinham de lidar com as responsabilidades que depois recaíram sobre quem cresceu. Educar é cair no mesmo ciclo, uma e outra vez: começa com a ideia confortável de quem não tem a responsabilidade e pode-se se preocupar apenas em quebrar os elos que os impedem atingir a suposta "liberdade" e termina quando a responsabilidade chega e percebem que essa liberdade é carregada de responsabilidades pesadas e como forma de alívio buscam essa sensação mais leve que ficou no passado.

Somado a essa discrepância causada pelas fragilidades da memória humana temos de pensar no modelo de vida social atual. As pessoas continuam a ter filhos, por que assim a natureza dispôs, mas também por motivos românticos que nos são vendidos todos os dias através de histórias em livros, em séries, em filmes, em discursos religiosos, etc. Porém, continuamos a enfrentar as mesmas dificuldades na hora de educar que os nossos antepassados, apesar da forma como se apresentam serem diferentes.

Antes, os pais saíam para os campos de sol a sol e os filhos ficavam sozinhos, entregues à própria sorte, ou os acompanhavam na jornada de trabalho. Hoje em dia, os pais não só saem para trabalhar de sol a sol, como ainda levam o trabalho para dentro de casa, deixando as crianças sozinhas entregues a um telemóvel ou a institucionalizam numa creche ou algo parecido. Se repararem o modelo é diferente, mas não deixa de ser a mesma coisa. No entanto, há uma diferença brutal, que é que antigamente as pessoas não sabiam que se podia fazer de outra forma, porém, os pais de hoje sabem que há formas mais saudáveis de educar e não querem ou não podem fazer diferente.

Temos estudos para todos os gostos que mostram que o ser humano aprende vendo como se faz e isso inclui o desenvolvimento emocional. Mais, hoje sabemos que há um componente emocional importante na forma como aprendemos e que as máquinas não conseguem replicar. É muito bom saber que o "tio google" é uma fonte inesgotável de informação, mas quem é que a vai procurar se não sentir que precisa dela? Quem é que a vai procurar se não souber que ela existe? Quem é que vai à procura de informação se não houver alguém com quem a compartir? E mesmo que seja o suficientemente curioso para ir atrás de conhecimento nas redes dos algoritmos, quem é que o retém se não existir um motivo real (entenda-se emocional)?

Tendo em conta esta componente emocional na forma como aprendemos, ferramenta essencial no processo de educação, o que podemos esperar de gerações que têm de lidar o tempo todo com a mudança dos seus adultos de referência nas escolas onde são depositados às 7h da manhã para sair de lá depois das 19h? Os pais deviam ser essa presença constante na vida das crianças, esse porto seguro para onde elas voltam quando têm de lidar com o stress da mudança constante, só que estes não têm tempo e terceirizaram toda a educação.

O que acontece, e isso é muito visível para nós que trabalhamos com jovens, é que estas crianças crescem à toa e aprendem rapidamente a buscar a tão desejada "liberdade" burlando os adultos ao aproveitar-se da constante troca dessas referências. Assim, vemo-los esperar pacientemente pela troca do professor que impôs regras básicas de convivência social e aproveitar-se da falta de paciência para fazer o certo do professor que entrar a seguir.

GRITOS.JPGDesta forma, estes jovens estão a crescer com a receita completa de como corromper os sistemas: é só esperar a troca do profissional competente pelo outro que não está para ter amargos de vida. O problema é tão grave que se reflete não só na forma como estes jovens se comportam, como nas notas de 4 e 5 que conseguem no seu relatório sem realmente saberem resolver o mínimo. A quantidade de jovens que entra nas universidades com boas notas sem conhecerem as classes de palavras (matéria da primária) é assustadora. Isso com o tempo vai acabar com o valor dos diplomas que tanto custam aos pais pagar e por consequência vai acabar com o prestígio das instituições que para ter diplomados facilitam demais. Em Portugal, o resultado dos nossos modelos de educação, ou da falta de reflexão sobre eles, está à vista, basta passear pelas ruas e observar os erros arquitetónicos feitos por diplomados que assinaram esses projetos, a fauna e a flora destruídas por senhores doutores que esperaram que houvesse a mudança conveniente de funcionário na repartição que autoriza o que se pode ou não fazer no nosso território, as estradas sem um pavimento circulável nem sinalização adequada viabilizadas por autarcas e engenheiros, etc. 

Muitas vezes olhamos para as coisas de uma forma muito simplista, demasiado simplista, e esquecemos que tudo está interligado. Não esqueçamos que o ser humano tem muita dificuldade em lidar com o enorme e que cria muitos subterfúgios para o encarar, como por exemplo as religiões, mas isso não invalida de que somos uma espécie supostamente inteligente e capaz. A educação é um assunto enorme, com um impacto social atroz, mas que precisa que tomemos o tempo de a olhar não só pelo lado económico, mas também pelo impacto social e individual que ela produz.

Estamos a criar pequenos corruptores ao não darmos importância à componente emocional da educação. Estamos a largar os pais desorientados que para aliviar a consciência por falta de presença saltam à jugular de qualquer professor à primeira queixa dos seus filhos, sem se preocupar em entender a dinâmica dessas relações. Estamos a produzir em massa professores que não se importam, porque não estão para se preocupar em produzir aulas de qualidade para um bando de fedelhos que só sabe reclamar e depois ainda terem de lidar com pais que adoram pousar de protetivistas nos 5m em que ficaria muito feio escaparem com a desculpa de que estão demasiados ocupados.

A educação é o caminho do sucesso individual e social, mas não é qualquer modelo que nos leva ao bom porto. Nós somos educados individualmente dentro de um grupo, e isso deve ser refletido o mais rápido possível. A formação de professores é fundamental, para termos mais profissionais comprometidos com a sua missão de uma forma positiva. É preciso aproximar os conteúdos educacionais das realidades dos jovens para que estes se interessem pelo conhecimento que está a ser partilhado. E é essencial dar ferramentas aos pais para que estes tenham uma presença positiva e produtiva na vida dos filhos, dando o reforço emocional necessário para que a criança aprenda a lidar com a sorte de contar com uma rede que o vai preparar para um futuro mais preparado, mas também para que estas aprendam a lidar com as frustrações e com as "liberdades" de uma forma saudável. Só assim, talvez, possamos sonhar com uma sociedade mais justa e com menos Chicos Espertos incompetentes a exibir diplomas que não mereciam, mas que o sistema permitiu. 

 

 

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